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Nokia: Agentes de Mudança

Ao longo dos tempos, a ficção científica tem antecipado realidades futuras. As viagens ao espaço, os submarinos, os tanques de guerra e até a bomba atómica foram criações literárias de Jules Verne (1828 – 1905) e Herbert G. Wells (1866-1946), antes de serem realidade.

Cory Doctorow
Cory Doctorow

Há quem diga que foram os sonhos destes profetas que inspiraram engenheiros e cientistas, mas há também quem tenha outra abordagem como Cory Doctorow, um escritor de ficção científica da actualidade, também activista, jornalista e blogger. Numa recente entrevista, Doctorow não hesita em afirmar que «ficção científica não é sobre o futuro, mas sobre o presente» e assume que as suas histórias «tentam prever os efeitos da tecnologia na sociedade e vice-versa».

“Visões” também que muitas empresas procuram e tentam antecipar. Hoje, mais do que no passado, a gestão das empresas passa essencialmente por entender a evolução tecnológica e as alterações sociais aplicadas numa matriz complexa, sempre em mutação e com choques permanentes. Muitas organizações já sabem que têm de mudar de rumo, de modelo operacional e de core business. O “como?” e o “para onde?” é que não está claro.

O caso da Nokia é um dos mais interessantes, por ser uma empresa que já demonstrou ter capacidade para este exercício de percepção dos efeitos da tecnologia e adaptação do seu negócio ao longo dos tempos.

Antes de fabricar telemóveis, a Nokia iniciou a sua actividade em 1865 como produtor de papel, passando depois para a borracha, cabos de telecomunicações, computadores, monitores e televisões. Hoje, a Nokia é uma das empresas que entende o que Cory Doctorow referiu, e prepara-se mais uma vez para antecipar o presente com mais uma mudança de rumo.

Desta vez, o objectivo anunciado por Tero Ojanperä, o vice-presidente executivo da Nokia, em entrevista à Fast Company de Setembro, é «transformar a Nokia na maior empresa de Media e Entretenimento».

Mas a grande surpresa foi que para fazer esta mudança, contratou como consultor, o músico Dave Stewart (fundador da banda Pop Eurythmics), a quem deu o cargo de “Agente de Mudança”.

MISSIONARY MAN: Stewart no seu estúdio de L.A.. Como embaixador da Nokia's para o entretenimento, quer criar uma plataforma aberta concorrente do ecosistema fechado da Apple's. | Photograph by Jill Greenberg Fonte: FastCompany
MISSIONARY MAN: Stewart no seu estúdio de L.A.. Como embaixador da Nokia’s para o entretenimento, quer criar uma plataforma aberta concorrente do ecosistema fechado da Apple’s. | Photograph by Jill Greenberg Fonte: FastCompany

Dave Stewart já definiu o caminho: preparar um concorrente em “open-source” à plataforma fechada da Apple e com isso, mudar a indústria de Media e Entretenimento e, consequentemente, a forma como hoje se coloca no mercado uma música, um filme, um jogo ou informação.

E está certo, pois não há fronteiras tecnológicas que impossibilitem que tudo se cruze. Por exemplo, podemos estar a jogar e comprar imediatamente banda sonora desse jogo, ver um filme dentro do jogo (como já acontece por exemplo, no Playstation Home da PS3), comprar as músicas desse filme ou ver notícias em directo sobre o que se passa no mundo. E claro, ter publicidade e possibilidade de comprar online bens físicos e digitais.

Qual o limite? Só a imaginação e criatividade.

Dave Stewart pode não ter sido o primeiro “Agente de Mudança”, mas estou certo que muitas empresas estão a precisar de criar esse cargo, de entenderem as mudanças tecnológicas e sociais, de perceber e prever o presente, ou seja, de fazer ficção científica.

Video de Dave Stewart e Mark Ollila (que criará o avatar Cindy Gomez)
(que será também avatar do jogo da Nokia – Dance Fabulous)

Nota: Artigo publicado no jornal Meios & Publicidade de 25/09/2009

Tero Ojanperä, o vice-presidente executivo da Nokia
  1. Concordo em absoluto: eu lembro-me em especial de ver a série “Espaço 1999” nos anos 70/80 e achar espectacular aqueles intercomunicadores que os protagonistas usavam (hoje telemóveis), as portas que abriam automaticamente com a proximidade, a identificação pela iris…acho que de tudo o que se via só o teletransporte ainda não é possivel.
    Tudo aquilo me parecia “do outro mundo” e mal sabia eu que no inicio deste século quase tudo estaria aqui!
    Ansioso por ver o que lá vem!
    Cpm
    Rui Pintus

  2. Concordo na íntegra.

    Aliás cada vez é mais ténue a diferença entre ficção científica e antecipação científica. Para além de Júlio Verne, podemos falar em Robert Heinlein, outro mestre destas áreas.

    Aplicando à gestão de recursos humanos, ao contrário do que era habitual, ou seja procurar a pessoa certa para o lugar certo, devemos cada vez mais procurar a pessoa certa para o lugar incerto.

    Cumprimentos

    Mário Fernandes

  3. Gostei do mote Nuno: agentes de mudança!
    Mas a mudança só é possível ser alcançada através da tenacidade do espírito e a história está aí para comprová-lo! Quantas invenções e/ou “revoluções” não teriam sido possíveis de acontecer sem a confiança, o optimismo e a tenacidade de todos aqueles e aquelas sedentos em inovar e mudar o estado de coisas e assim contribuindo para um mundo melhor e para a resolução de problemas diversos das sociedades, nomeadamente através da ciência, investigação e o avanço científico? Só a tenacidade poderá vencer o cepticismo e a desconfiança!:))
    No capítulo das tecnologias, obviamente que as empresas necessitam cada vez mais de envolver os utilizadores finais no processo de desenvolvimento dos seus sistemas e saber combinar eficazmente a técnica e o conhecimento científico com o imaginário criativo.

    Abraço Nuno!
    Jorge

  4. Nuno, não podia estar mais em acordo.

    Como costumo dizer, o céu é o limite, mas neste contexto, poderá não ser 🙂

    O princípio de Alvin Toffler, não podia estar mais correcto: “A iliteracia do século XXI, não se refere àqueles que não sabem ler e escrever, mas àqueles que não sabem, aprender, desaprender e reaprender”.

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