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Os Media na encruzilhada entre a crise e a revolução digital

Há imagens que guardamos para sempre na nossa memória e, nos últimos meses, tenho recordado com frequência a minha primeira aula de Economia com o Professor João César das Neves, que depois das devidas apresentações, projectou um acetato com um gráfico ciclos económicos e as crises que pontuaram a História.

A crise que hoje vivemos tem contornos diferentes das anteriores e coloca-nos perante novos desafios a nível de políticas macro-económicas, regulação e de gestão nas empresas.

Como sempre, nestas situações, chegou o momento de agir com frieza, coragem e responsabilidade, mas antes, há que repensar com urgência os modelos de negócios.

As palavras sinergia e reestruturação, que muitas vezes se repetem dentro das organizações têm urgentemente que deixar de ser palavras para ser acções, com a consciência de que são uma necessidade vital para garantir a eficácia nas operações e a sua rentabilidade.

Em Novembro passado, escrevi aqui neste mesmo espaço, sobre a importância dos recursos humanos nas empresas, com especial enfoque nos negócios digitais. Hoje, no ciclo que vivemos, não se trata apenas de um factor importante, mas sim do factor decisivo para responder às alterações exigidas e consequentes mudanças de culturas.

Por isso, primeiro, antes de definir qualquer plano de negócio, sinergias ou reestruturação, é necessário perceber se as equipas têm colaboradores que revelem entusiasmo, motivação, capacidade de trabalho, orientação para objectivos, foco, determinação, energia, paixão pelos projectos, confiança e liderança.
Depois, há que ter em conta que as alterações nas organizações, não devem ser provocadas apenas pelo contexto de crise, pois devem também ter em atenção a “Revolução Digital” em curso, de forma a criar processos mais eficazes e chegar a novos públicos.

E com isto, estou certo que vencerão os mais rápidos, ágeis e corajosos, que neste contexto, são os mais aptos. Ficarão pelo caminho os que não conseguirem traçar um rumo, os que têm falta de know how e os que de uma forma atrevida decidem ignorar a crise e revolução digital.

Muitos achavam que as dotcom poderiam estar imunes a esta crise, porque os mercados digitais como por exemplo, a publicidade on-line, continuam a crescer com taxas acima dos dois dígitos. Mas, tal não que não é verdade, porque por um lado, o seu financiamento depende muito do mercado de capitais e, por outro, o número de players continua a aumentar de dia para dia.

Veja-se o Google que tem sido a “dotcom” de referência e que começou a dar os primeiros sinais fraqueza com as acções a descerem 46% nos últimos 12 meses, os resultados do último trimestre de 2008 a descerem 68% (é a primeira vez na sua história que anunciam descida de lucros), o despedimento de 170 colaboradores, o encerramento de vários centros de desenvolvimento (laboratórios), o fim do projecto Lively (concorrente do SecondLife) que teve poucos meses de existência, o encerramento do negócio da venda de anúncios para jornais (Google PrintAds) e o fluxo de saída de muitos colaboradores que pouco a pouco foram percebendo que afinal a empresa liderada por Sergey Brin e Larry Page, já não é a melhor empresa para se trabalhar.

O caso do Google não é mais do que um sinal dos tempos, na encruzilhada entre a crise e revolução digital, e a antever que muito provavelmente, teremos alteração de posições no ranking das indústrias de Media e dotcom.

Nuno Ribeiro

Nota: Artigo publicado no jornal Meios & Publicidade de 06/02/2009

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