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A indústria dos videojogos

A evolução das tecnologias de informação permitiu não só um maior acesso à informação e comunicação em múltiplas plataformas mas também ao entretenimento. Os videojogos saíram das arcadas e dos salões de jogos para os lares e bolsos (consolas portáteis e telemóveis) dos utilizadores. A indústria de videojogos é das que tem tido maiores taxas de crescimento (na área de Media & Entretenimento) e apresenta maior potencial de crescimento para os próximos anos. Para tentar perceber o porquê desta tendência é importante analisar:

  • Mercado dos videojogos
  • Fontes de receita
  • Público / perfil dos “gamers” (jogadores)
  • Publicidade nos videojogos

Mercado dos Videojogos:

No estudo de mercado Global Entertainment and Media Outlook 2009-2013 – realizado pela PriceWaterHouseCoopers, a estimativa sobre o volume de negócios na indústria de videojogos é de 51,4 biliões de dólares em 2008 com estimativa de crescimento para 73,5 biliões no ano de 2013. A haver erro nestas estimativas, só poderão ser por defeito pois as recentes notícias apontam para um crescimento cada vez mais acelerado (e tudo indica ser bastante superior aos “conservadores” 6,9% de crescimento médio anual). No ano de 2008, em Portugal, foram vendidos mais de 2,5 milhões de videojogos ultrapassando pela primeira vez a venda de filmes em formato DVD. Nos Estados Unidos, este valor ultrapassou os 268 milhões de unidades só para três plataformas de consola de videojogos (Nintendo, Sony e Microsoft). As previsões para 2009 e 2010 continuam a apontar para crescimentos em todos os mercados (mercados analisados: América do Norte, EMEA -Europa, Médio Oriente e África, Ásia e Pacifico e América Latina). Prova deste crescimento em 2009 são as sucessivas notícias de recordes de vendas. Em Maio de 2009, o jogo Grand Theft Auto IV (GTA IV) , vendeu mais de 6 milhões de unidades em apenas uma semana, com receitas superiores a 500 milhões de dólares (das quais 3,6 milhões de unidades / 310 milhões de dólares foram no primeiro dia de venda).

No seguinte mês de Novembro, a editora do videojogo Call Of Duty: Modern Warefare 2 – Activision | Blizzard – anuncia que vendeu no primeiro dia 4,7 milhões de cópias nos mercados da América do Norte e Inglaterra gerando só nestes dois mercados mais de 310 milhões de dólares e 13 milhões de unidades vendidas no primeiro mês ultrapassando assim o Grand Theft Auto IV. Estes valores ultrapassam largamente os valores de receitas bilheteira das grandes produções de Hollywood.
Um dos catalisadores desta indústria é o fenómeno das redes sociais, onde as editoras Zynga e Playfish distribuem e promovem muitos dos seus jogos e por isso aumentaram a popularidade e utilização dos seus títulos de forma exponencial. Esta popularidade atraiu a atenção dos investidores, tendo sido a Playfish adquirida por um dos maiores editores de videojogos do mundo a EA-Electronic Arts que pagou mais de 400 milhões de dólares por esta editora. Por sua vez a Zynga foi avaliada em mais de um bilião de dólares, e a empresa Russa de capital de risco Digital Sky Technologies investiu 180 milhões de dólares na Zynga no passado mês de Dezembro. O Google ainda não revelou quais os seus planos para esta indústria, mas já deu sinais que está atento e que prepara movimentos, com o registo da patente Web-Based System for Generation of Interactive Games Based on Digital Videos.

Fontes de receita:

Inicialmente, as fontes de receitas dos jogos eram as “moedinhas” que eram necessárias para jogar na consola “estacionada” nas arcadas e salões de jogo. As variáveis de negócio/rentabilidade estavam dependentes de vários factores como a distribuição e localização das consolas que não eram controladas nem geridas pelos editores. A evolução tecnológica e consequente evolução dos dispositivos, permite que hoje as consolas e outros dispositivos estejam em casa e no bolso (telemóveis e consolas portáteis). Esta radical alteração na distribuição e massificação do consumo de videojogos veio permitir aos editores criarem jogos com novas possibilidades de receita que não apenas a venda de unidades do jogo. Actualmente, as receitas de um videojogo com características de “Massive Multiplayer Online Game – MMOG” – podem ser quatro: venda, subscrição de serviços adicionais, venda de bens digitais e publicidade (in-game advertising).

  • Venda: A venda de videojogos já não está só dependente da distribuição física e tem tendência a aumentar cada vez mais nas lojas on line (exemplo: GameTap) e nas “Apps Stores” dos fabricantes de hardware /consolas/telemóveis (lojas on line de venda de aplicações, exemplos: Playstation Store, Wii Shop, iTunes, Xbox Live Market Place, etc.).
  • Subscrição de serviços: Muitos MMOG “obrigam” ou dão como opção a possibilidade de subscrever serviços. O World of Warcraft, por exemplo, “obriga” a subscrever por 10 euros mensais o serviço on line, e conta com mais de  11,5 milhões de fieis jogadores valor que lhe garantiu entrada no “Guiness”. Outro exemplo, é o caso dos jogos on line da PowerChallenge: PowerSoccer e ManagerZone, onde os jogadores podem subscrever o serviço de “membro do clube”, passando assim a ter funcionalidades adicionais.
  • Bens digitais: Nos MMOG, a existência de bens digitais é a forma que os utilizadores têm de se distinguir, transmitindo a sua personalidade ou a dos avatares criados. A venda de bens digitais é, por isso, uma fonte de receita bastante interessante para os editores.
  • Publicidade (in-game advertising): A larga audiência que hoje os videojogos conseguem atingir, associada à afinidade dos jogos com determinados públicos, despertou o interesse das marcas/anunciantes para comunicar dentro do ambiente de jogo transmitindo também maior realismo e envolvimento com os jogadores (mais adiante detalharei este tema).

Público/perfil dos “gamers” (jogadores):

Os videojogos estão a chegar a cada vez mais públicos, e “jogar” deixou de ser uma actividade individual para ser uma actividade colectiva pela possibilidade de jogar em rede, mas também porque as consolas estão a deixar os quartos dos jovens para ocupar um lugar nas salas e passarem a ser uma actividade de entretenimento familiar. O comportamento dos jogadores também mudou. Os MMOG transformaram os utilizadores de simples consumidores a contribuintes para o conteúdo de jogo, pois passam a “personalizar” o ambiente de jogo (que é partilhado por outros utilizadores). O perfil actual dos jogadores é maioritariamente masculino (60%) dos quais 48% são jogadores activos (jogam mais de 8 horas por semana), nas mulheres este indicador passa para 29%. Têm uma idade média de 36 anos, têm formação superior ou frequência de ensino superior (50%), rendimento superior à média e forte consumo de novas tecnologias e gadgets (são fortes influenciadores de compra nas áreas de tecnologias dos seus contactos) e estão ligados à Internet pelo cerca de cinco vezes ao dia e jogam online (60%).

Publicidade nos Videojogos:

A publicidade em videojogos é ainda uma “novidade”, mas a sua envolvência e resultados de eficácia comprovados por vários estudos. O nível de atenção à acção de jogo é elevado, e por isso, a publicidade não passa despercebida e é mesmo apreciada pelos jogadores, pois torna o ambiente de jogo mais real. Os resultados da campanha “in-game” da Zappos.com apontam para taxas de eficácia 500% superiores às de uma campanha de televisão: – Os utilizadores que viram a campanha em videojogos tiveram recordação de marca cinco vezes superior aos que não viram a campanha. – Aumentou em 56% a percepção positiva sobre a marca/empresa – Os jogadores que viram a campanha têm um elevado nível de recordação durante o jogo (a TV só consegue chegar a um nível médio). Há quatro formas de utilizar os jogos como forma de comunicação:

  • Integração estática (inclusão de produtos na acção do jogo), por exemplo: colocar marcas através de objectos como um automóvel, bola de futebol, chuteiras, etc. de marcas e facilmente reconhecidas como elementos do jogo.
  • Jogos desenvolvidos por encomenda para uma marca ou produto, exemplo: um jogo de automóvel para uma marca automóvel com modelos dessa marca e distribuído por essa marca(CD Rom e/ou no seu site).
  • Acções de Co-Marketing fora do Jogo, com acções promocionais no ponto de venda dirigidos aos utilizadores de um determinado jogo, usufruir de desconto especial e/ou para quem tenha comprado um determinado produto (que seja patrocinador do jogo) ter uma oferta de um bem digital ou crédito extra no jogo.
  • Publicidade dinâmica, publicidade distribuída de forma dinâmica dentro dos jogos com programação e modelo de distribuição equivalente às campanhas de Internet (com número de impressões para serem distribuídos em períodos temporais). As impressões são medidas por tempo, por cada 10 segundos cumulativos de exposição é contabilizada uma impressão (e cada impressão só é contada após meio segundo de exposição). O indicador chave nas campanhas dinâmicas “in-game” é o tempo de exposição da publicidade e o tempo médio de exposição por impressão, pois é normalmente superior aos “10 segundos” devido aos fragmentos de segundos acumulados.

Nota: Artigo publicado no jornal Meios & Publicidade de 19/02/2010

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  1. Especial Videojogos: onde estudar e onde procurar emprego na indústria dos jogos digitais | Recursos de Emprego
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  2. Hoje em dia não está só nas mãos dos decisores. A minha formação passou por três diferentes áreas (Humanidades, Ciências, e depois estabilizou em Informática, através de curso técnico profissional e licenciatura) e em todas elas encontrei pessoas que demonstraram interesse em fazer algo para jogos, seja escrever / programar / música ou desenhar. Nas faculdades começam a aparecer cadeiras específicas a este tema, no entanto não há saídas profissionais porque simplesmente não há indústria, os tais decisores não tomaram medidas nesse sentido.

    No entanto, sabendo que há tanta “mão de obra” interessada, porque é que ainda não há algo sólido em Portugal, para além de uma mão cheia de PMEs que parecem fechadas sobre si próprias? Não deviamos organizar um certame, umas exposições, umas conferências, chamar a atenção das faculdades que as pessoas querem aprender e que precisam de apoio para o fazer?

    Se existissem canais nacionais para estas pessoas comunicarem entre si, sem terem que percorrer forums com poucas pessoas à procura de um artista ou de um programador, já teríamos mais equipas amadoras a criarem conteúdos e a disponibilizarem-nos na míriade de serviços na Internet que não requerem editoras nem publishers e ultrapassam as barreiras dos países. Olhemos para casos de sucesso lá fora como o World of Goo, feito por 2 pessoas que nem estavam no mesmo continente.

    O que falta em Portugal é as massas organizarem-se e começarem a construir um produto / jogo e distribuirem-no aos canais apropriados, por ex: Kongregate, Facebook que são mais abertos ou tentarem algo mais sério como o Steam, XBLA ou Wii.

  3. Boa tarde.

    Tal como referi no Linkedin, continuo a defender que o mercado de videojogos é aliciante e tem futuro, principalmente se for uma editora – claro que há editoras que nunca chegaram a singrar, mas tal acontece também na indústria cinematográfica e musical, mas aquelas editoras que conseguiram criar um produto aliciante viram o seu esforço compensado. O mercado de videojogos é cada vez mais abrangente, não esqueçer que não só as crianças de hoje que jogam, os adultos que hoje estão na casa dos 30 e 40 anos são os mesmos que começaram a jogar em Spectrum, Amiga, Megadrive e pc alargando o mercado de uma faixa inicialmente juvenil para adultos, permitindo criar uma nova série de temas para videojogos.

    Tal como afirmei no linkedin, a área de distribuidores locais de videojogos corre o risco de desapareçer e tornar-se obsoleta, mas as editoras vão sempre existir enquanto houver pessoas com imaginação e know-how de a colocar em suporte informático.

    Quem quiser investir no mercado tem as seguintes opções:

    1. Investir em acções de empresas existentes com boa autonomia financeira, uma carteira de videojogos capazes de suportar o investimento em novos jogos e uma boa politica de timing em lançamento de produtos – casos da Electronic Arts, Blizzard, Vivendi, Take2, Nintendo, etc.

    2. Criar uma label, dar o litro e esperar que o mercado reaja bem aos videojogos criados. Neste caso, 3 cenários podem ocorrer:
    a) Ter sucesso e continuar independente
    b) Ter sucesso e esperar que uma editora compre a sua label, quantas editoras conheçemos nós que foram adquiridas? Dezenas !!
    c) Não ter sucesso e seguir em frente.

  4. Caro Paulo,

    A indústria dos videojogos, pressupõe riscos como qualquer outra.

    Há semelhanças com as indústrias do cinema e da música. Mas, também aqui quantos filmes nunca sairam do “papel” e quantas bandas nunca sairam da “garagem”?

    Acontece em todos os sectores de actividade e profissões.

  5. Repetindo o meu comentário já feito nos fóruns do LinkedIn,

    Discordo que a indústria dos videojogos seja uma aposta segura.

    A indústria dos videojogos tem um funcionamento similar à industria cinematográfica e áudio.

    Por cada World of Warcraft, GTA e Farmville, existem milhares de estúdios que ficaram pelo caminho e fecharam portas após a publicação do 1º jogo, isto se o conseguiram fazer.

    Há que ter muita perseverança, e estar disposto a trabalhar mais horas e receber menos do que noutras áreas.

  6. Luís,

    Boa observação o ponto do Downloadle Content – Conteúdos Extra.
    É de facto mais uma das possibilidades de aumentar as receitas para os editores e de garantia de continuidade na “história” para os “gammers”.

    Abraço
    NR

  7. Miguel,

    Hoje, mesmo os músicos têm novas plataformas de distribuição e também novas fontes de receitas…
    Estás quase como as “velhinhas” dos anúncio do Continente: “Eu ainda sou do tempo…” 🙂

    Abraço
    NR

  8. Nuno,

    bom artigo. Principalmente para aqueles que pensam que os jogos são só para as crianças.

    Deixa-me no entanto salientar dois aspectos:

    1) Os dois jogos que referiste, o Call of Duty e o GTA IV, são jogos onde apesar de haver uma componente multiplayer a componente mais forte está nas campanhas que se jogam individualmente. Na verdade, mais no Call of Duty do que no GTA, existem dois jogos dentro de 1. Um para jogar sozinho, outro para jogar em rede. Mas nestes jogos o facto comunidade é importante mas não determinante.

    2) Para além do modelo de negócio que referiste, dos bens digitais, começa a aparecer um novo modelo de negócio que tem a ver com conteúdos extra pagos para os jogos que são lançados, os “Downloadable content”, frequentemente denominados DLC. Como exemplo, dou o Singstar (jogo de karaoke da Playstation) em que podemos comprar músicas na loja online.

    Abraço

    P.S. Na minha opinião, o sucesso dos videojogos não tem nada que ver com o facto de ser mais fácil fazer downloads de filmes e músicas.
    Os estudos efectuados afirmam claramente que as pessoas valorizam mais um jogo do que um filme por causa da duração do divertimento. A verdade é que vemos uma vez um filme e dificilmente voltamos a vê-lo, enquanto que um jogo pode durar mais de um ano. Não é por acaso que em tempos de crise, os DVD baixam as vendas e os jogos não.

  9. Nuno,

    O sucesso dos video jogos não terá a ver com a maior dificuldade em realizar downloads, ao contrário dos filmes e musicas. Eu não tenho muita experiência de video jogos, como sabes, os meus filhos sabem muito mais do que eu, mas quando eu era novo ( ! ) para ter uma musica tinha de comprar um disco e os grupos musicais viviam das vendas dos seus discos…

  10. Nuno, excelente artigo, parabéns!

    Para quem, depois de ler o teu artigo, ainda duvide do valor da indústria dos videojgos, recomendo a leitura do acabado de chegar “FUN INC. – Why Games are the 21st Century’s most serious business”, de Tom Chatfield (ISBN 978-0-7535-1985-1).

    Forte abraço,

    Mário Alcântara

  11. Rui,

    Há como referi videojogos que têm maior volume de receitas do que alguns dos blockbusters de cinema. As indústrias de videojogos e de cinema estão cada vais mais ligadas.
    Não há filme de acção ou aventura que hoje não tenha videojogos associados. Que é a forma que os espectadores/jogadores têm de serem personagens/actores nos filmes. A possibilidade de jogar online com outros utilizadores reforça a comunidade em torno dos jogos e das respectivas histórias.

    Abraço
    NR

  12. Boas Nuno,
    Acompanho com muito interesse o crescimento desta indústria bem como o contexto em que ela se realiza: a era digital está a mudar as nossas vidas e acho impressionante aquilo que o entretenimento nos pode oferecer hoje.
    Ansioso por saber o que lá vem…será que ainda vamos assistir a cenários parecidos com o cinema cada vez que um jogo é lançado? Acho que isso só poderia significar que a qualidade/inter-actividade dos video jogos teria passado a patamares que não imaginamos ainda.
    Abraço amigo

  13. Rogério,

    Obrigado pelo link. Não conhecia.

    Na minha opinião, os decisores começam a ter a mente aberta ao mercado dos videojogos.
    Muitas vezes o problema nas novas plataformas é perceberem como funciona, e como podem comunicar. O mesmo aconteceu com a Internet, e hoje já ninguém contesta que faz sentido ter um site e comunicar on line 🙂

    Os players/editores têm é que saber explicar a dimensão do mercado e das audiências dos videojogos e as possibilidades e novas métricas de medição.

  14. Olá, Nuno,
    Uma boa fonte para ver a evolução destes números é o http://www.vgchartz.com, para o caso de não conhecer.

    Só é pena que a grande maioria dos decisores esteja a leste ou então não perceba o mercado.