Skip links

Facebook Home: O abanão nos gigantes

Ainda é cedo para perceber a adesão dos consumidores ao Facebook Home… mas, o primeiro impacto é um forte “agitar das águas” onde se movem os gigantes…
Para perceber este movimento do Facebook, é preciso entender o ADN da empresa Facebook, que não tem medo de avançar e, recuar mais tarde (se for necessário), não vendo nisso como uma falha, mas sim uma forma de aprender e de afinar a sua estratégia.
Por isso, não tem medo de afrontar os gigantes instalados, mas aprendeu a fazê-lo com cuidado pois tem uma clara noção da sua dimensão e da dimensão dos seus concorrentes e parceiros…

Dimensão dos Gigantes*

Apple

Google

Microsoft

Amazon

Facebook

Cap.  Bolsista**

400

255

239

117

63

Receitas 2012

156

50

73

61

5

Lucro 2012

41

10

17

-0,039

0,053

*Valores em milhares de milhões de dólares. Receitas e lucros relativos ao ano fiscal de 2012 de cada uma das empresas.

** Capitalização bolsista no dia 8 de Abril.

O Facebook conseguiu dominar a Web e chegou atrasado ao Mobile, mas avançou de forma determinada e isso ficou muito claro na primeira entrevista que Mark Zuckerberg deu, depois do IPO (Inicial public offer), na conferência Techcrunch Disrupt, em Setembro de 2012.

facebookHome-integrationMas, o que é o Facebook Home?
É um smartphone personalizado pelo Facebook, que utiliza o sistema operativo Android da Google, e lhe coloca uma camada de topo para tapar todas as restantes aplicações. Ou seja, é um Smartphone focado no Facebook (Media Social), no Newsfeed que é o “nosso” jornal. E também por isso, uma inevitável ameaça e uma oportunidade para os Media tradicionais…
Se ainda é cedo para perceber como vão os consumidores reagir também é cedo para perceber quais as próximas evoluções que o Facebook vai efetuar nesta personalização. Será possível fazer chamadas de voz, videochamadas ou jogar, dentro do ecossistema Facebook nos dispositivos móveis?

Para já, fica apenas uma constatação: o Facebook  Home coloca em segundo plano os editores de aplicações e os Media.

A personalização do Android já tem sido feita por vários fabricantes de dispositivos móveis e operadores de telecomunicações, mas estes não concorrem com a Google e a distribuição do seu sistema operativo ajuda a captar informação para a Google, que desta forma passa a conhecer melhor os consumidores e, assim, segmentar a distribuição publicidade.

Apenas a Amazon através do seu tablet Kindle se tinha atrevido a ir mais longe na personalização do Android, dando destaque à sua loja e reduzindo a passagem de informação para a Google ao não utilizar o browser Chrome, pois desenvolveu um browser próprio o SILK.

Mas, como a Amazon ainda não é um forte player na área da publicidade a Google ficou certamente chateada, mas não se sentiu ameaçada no imediato…

Qual o objetivo do Facebook, com o Facebook Home?
O objetivo do Facebook é tornar-se o centro do espaço Mobile para os utilizadores e conseguir a rentabilização da sua audiência. O mercado da publicidade em Mobile pelo seu potencial de crescimento (estima-se que terá um crescimento de 122% nos próximos dois anos), é um mercado muito importante.

O Mark Zuckerberg, percebe claramente que provocou a Google (utilizando o seu sistema operativo para o atacar) e por isso, está a avaliar como a Google vai reagir a esta entrada…

Há um momento muito importante na apresentação, quando Mark Zuckerberg refere que:

O Android foi desenhado para permitir este tipo de integrações profundas e, graças ao compromisso da Google em abrir o seu sistema operativo, é possível ter uma experiência em Android que não é possível ter noutros sistemas operativos. …

Ou seja, recordou publicamente o compromisso assumido pela Google para evitar que este efetue alterações na sua estratégia mobile que penalizem a sua abordagem ao mercado através do Facebook Home.

Porquê a parceria com a HTC?
A escolha foi do presidente da AT&T Mobility – Ralph de la Vega (min: 35:00). A HTC está a perder quota de mercado e para os operadores começa a ser cada vez mais difícil de negociar com a Apple e a Samsung pelo seu poder de mercado. Por isso, quantos mais fabricantes com equipamentos que vão ao encontro dos desejos dos consumidores melhor para os operadores de telecomunicações, razão pela qual a AT&T deu a mão à HTC que assim “encarna” o papel de “Facebook Phone” e poderá conseguir recuperar quota de mercado.

Qual o impacto na estratégia dos gigantes: Google, Apple, Amazon e Microsoft?

Google:
A Google tem dois momentos importantes na sua estratégia mobile: a recente (2012) aquisição da Motorola por 12,5 mil milhões de dólares, (reação à compra das patentes da Nortel por um consórcio criado por todos os seus principais concorrentes: Apple, Microsoft, Nokia, Sony, etc.) e a aquisição do sistema operativo Android em 2005 por 50 milhões de dólares.
O objetivo do criador do Android –  Andy Rubin (que foi afastado recentemente da divisão mobile da Google), era que o Android fosse uma plataforma aberta (open source) e que permitisse a todos (em particular aos fabricantes de smartphones), a sua utilização assim como a criação de market places para a distribuição de aplicações.
No entanto, o Android está a ser utilizado para concorrer  diretamente com a Google. E é isto que o Facebook Home está a fazer de forma descarada… e se tiver sucesso pode ter criado um enorme problema para a Google.
O Facebook veio expor uma vulnerabilidade do modelo de negócio  e estratégia da Google, ou seja, o Facebook tornou-se num “Cavalo de Tróia” dentro da Google.

Como pode a Google reagir?
– Pode apostar num maior envolvimento com os seus Media Sociais (Youtube, G+, etc.), integrando-os por defeito no seu sistema operativo.

–   Acelerar o desenvolvimento de novas áreas de negócio TV, Óculos, etc. para conseguir alargar a operação de publicidade para novos dispositivos, mantendo assim uma quota de mercado relevante.

–   Alterar a sua estratégia fechando total ou parcialmente os seus sistemas operativos (Android e Chorme OS) de forma a evitar que os seus concorrentes utilizem as suas plataformas e concorram diretamente nos mercados da Google. No entanto, se acontecer, será uma alteração profunda do seu modelo de operação e até mesmo do seu ADN…

Apple:
Com o Facebook Home, o Android ficará mais fragmentado e assim a Apple reforça a posição do seu ecossistema e a sua capacidade negocial como fabricante.

– Os programadores e Media vão valorizar mais o ecossistema da Apple, pois a Apple não se sobrepõe aos editores e o sistema operativo iOS só é utilizado nos dispositivos Apple que desta forma garante controlo da experiência do utilizador e defesa do seu modelo de negócio.

– Como fabricante reforça a capacidade negocial junto dos operadores de telecomunicações, pois iPhone só há um enquanto que equipamentos Android são centenas de dispositivos.

Amazon:
É cada vez mais claro que vai avançar com um smartphone e possivelmente também com uma Televisão…
A Amazon anunciou na semana passada que contratou um veterano da Microsoft que foi responsável pelo Windows Mobile e Windows Media Center – que tem um nome apropriado para a Amazon: Charlie Kindel (muito semelhante a Kindle).
A grande dúvida é se a Amazon continuará a utilizar o Android como está a acontecer atualmente no Kindle ou se utilizará um sistema operativo próprio.

Microsoft
Está numa encruzilhada complexa com a Apple e a Google a dominarem o mercado mobile, e por isso, deve reavaliar a estratégia e operação mobile para tentar ganhar quota neste mercado…

E o Twitter e restantes Media Sociais?
Se o Facebook Home for um sucesso, pode fazer sentido para o Twitter e outros Media Sociais personalizarem o sistema operativo Android como forma de aumentarem a sua audiência e a rentabilizarem.
O Twitter está com uma forte taxa de crescimento e a conseguir um posicionamento interessante,  a preparar integrações com a área de música e televisão que irá acelerar o seu crescimento e que será também potenciado pelo crescimento da área mobile.

Nota: Artigo publicado nos jornais Diário de NotíciasMeios & Publicidade e Jornal Expansão (Angola).

Relacionados:

– Facebook Home: Ou como o Facebook saltou para cima da Google…

– Facebook: a Startup perfeita [Estudo]

– Facebook no pós-IPO

– Facebook = 1.000.000.000 de utilizadores [Video]

– Google Vs Facebook: A competição pelo bolo publicitário

  1. Vitor,

    É cedo para perceber os próximos desenvolvimentos… mas, estou seguro que a Apple vai nos próximos meses tirar uns “gadjets da cartola”. Em Junho/Julho teremos o WWDC 2013 (que vai esgotar as entradas em poucas horas), onde teremos um novo iOS 7 (a alavanca do Mobile, TV, iWatch e outros dispositivos que possam surgir).

    O iRadio (serviço de rádio online a lançar em breve), terá certamente uma componente social importante e integrará possivelmente de raíz o iOS e MacOS (todos os dispositivos Apple).

    O concorrente de peso que pode “assustar” a Apple é a Amazon. Ambos sabem disso… 🙂

    Teremos vários e interessantes embates de titãs 🙂

    Abraço
    NR

  2. Considero que o facebook home uma proposta fantástica e muita apelativa (disclaimer: não tenho acções do FB e sou utilizador _muito_ esporádico), mas tenho muitas dúvida sobre o seu “outcome”. Se para a Apple aparentemente são boas notícias (dividir para reinar), a grande dúvida reside se o mercado dos smartphones se irá especializar, tal como tem acontecido com algumas tecnologias no passado.
    No sector dos tablets, tenho assistido a muitos amigos que numa primeira fase “abraçam” o mundo Apple, para num segundo momento irem à procura de uma solução mais específica (“.. tem que ter um slot usb/cartão de memória”, “.. tem que ter uma caneta para reconhecer as minhas notas nas reuniões”, etc.).
    Com o enorme sucesso dos seus produtos e, de alguma forma, a sua comoditização (de que outra forma se explica “tunnings” a ouro e diamantes?), a componente aspiracional tem vindo a diminuir e, apesar de o ecosistema Apple ser uma barreira à saída, encontro muitos consumidores a transitarem de Apple para outras marcas.
    E neste contexto, julgo que a o Home da Facebook é mais uma frente de batalha contra a Apple.

Comments are closed.