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Quando as pizzas se encontram com a inteligência artificial

Descubra como a inteligência artificial pode ajudar a disromper a indústria tradicional e estabelecida das…pizzarias! Utilizando robôs e uma logística inteligente, a Zume Pizza tem como objetivo oferecer aos seus clientes e colaboradores uma experiência superior.

O pitch: como a inteligência artificial é explorada

À primeira vista, a Zume, lançada em 2016, é um serviço normal de distribuição de pizzas a operar em Silicon Valley: a encomenda é feita por telefone, website ou App, o pagamento é realizado e a pizza é entregue.

Toda a magia acontece nos “bastidores” (pelo menos por agora), isto é, no processo de produção. A Zume Pizza utiliza 4 robôs (fabricados pela empresa suíça ABB) em três passos da cadeia de produção, nas tarefas mais rotineiras:

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A Zume está também a desenvolver uma frota de camiões de distribuição inteligentes. Cada um deles possui 56 fornos que podem ser ligados ou desligados dependendo da localização dos camiões ou da localização de determinado cliente: precisamente, 3 minutos e meio antes da hora de chegada, o forno começa a preparar a pizza.

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O impacto: o que é que a inteligência artificial proporciona

Transformação da estrutura da equipa: na sua sede, em 2016, a Zume Pizza empregava 12 engenheiros, designers e gestores de produto na área de escritórios vs. 30 colaboradores na área de cozinha e equipas de distribuição. É, por isto, provavelmente, a pizzaria com o rácio mais elevado de “colarinhos brancos”.

Menos colaboradores, mais benefícios: dado que a Zume Pizza possui menos colaboradores do que uma cadeia de pizzarias tradicional, tem a capacidade – e prefere! – atribuir uma remuneração mais elevada aos seus colaboradores. Os estafetas auferem 18 dólares/hora vs. 8 dólares/hora + gorjetas na Domino’s.
A empresa também oferece uma cobertura  abrangente ao nível da saúde a todos os seus colaboradores e, ainda, “apoio no pagamento de propinas se os colaboradores estiverem interessados em adquirir formação que lhes dê mobilidade dentro da empresa, à medida que os trabalhos na cozinha são automatizados“. No final do dia, este parece ser um modelo win-win, uma vez que a Zume tem metade dos custos com recursos humanos, quando comparado com os seus concorrentes: 14% das vendas vs. 30% na Domino’s.

Competir na experiência e não no preço: A Zume Pizza oferece produtos a preços equivalentes aos da concorrência. Os seus maiores diferenciadores são a qualidade dos ingredientes e a rapidez do serviço: da encomenda à distribuição, a empresa demora perto de 15 minutos.

As consequências: Possíveis futuros 

Automatização cada vez maior: a empresa não esconde a intenção de automatizar rapidamente todo o processo de produção (o que não significa a dispensa total de colaboradores na cozinha; tal como no contexto industrial, estes colaboradores serão responsáveis pela supervisão e funções destinadas a assegurar a qualidade).
É provável que a componente de distribuição siga o mesmo caminho, a médio prazo. Hoje, já é possível antever que a aliança poderosa entre veículos autónomos apetrechados com rovers ou drones permitirá fazer os “últimos metros” até às habitações dos consumidores. Mas fazer a ponte entre “preparar a pizza no forno” e a “pizza transportada numa caixa por um rover” será a parte mais complicada: tal requer uma  espécie de extensão robótica flexível capaz de alcançar as dezenas de fornos, de colocar as pizzas nas caixas, cortá-las e, por fim, colocá-las nos rovers. Trata-se de um conjunto de tarefas complexas que um único robô terá de dominar.

Redefinir os papéis: a fim de automatizar um número crescente de tarefas, será necessário contratar novos perfis técnicos – para Investigação & Desenvolvimento e para o terreno. Uma vez que a Zume não possui lojas, a sua expansão geográfica irá exigir à equipa de marketing a captação de novos clientes, um  serviço ao cliente que os fidelize e programadores e designers para garantir que os pontos de contacto digitais da Zume proporcionam a melhor experiência do utilizador.

Por último, mas não menos importante, a presença de colaboradores na cozinha continuará a ser relevante para 2 tipos de tarefas: Investigação & Desenvolvimento em gastronomia (ter mais tempo para criar novos tipos de pizzas); diversificação da linha de produtos (confecionar sobremesas, por exemplo), o que pode ajudar a perceber os desafios da produção associada a novos projetos e servir de preparação para uma futura automatização.

Redefinir a autenticidade: A Zume está a testar as expectativas dos consumidores numa era de crescente automatização. Para já, certifica-se que os seus robôs não produzem pizzas perfeitas (ou seja, autênticas), ao espalhar, por exemplo, molho de tomate de diferentes maneiras. No final do dia, a questão é simples e dura: o que é a autenticidade no século XXI? Algum envolvimento humano a certo ponto do processo de produção? A criação de receitas originais? A adaptação de cada pizza ao perfil específico do consumidor, graças à automatização? Certamente, vamos acabar num debate que faz eco na dificuldade de definir “made in USA” ou “homemade”. Talvez um dia criaremos a certificação “feito por humanos”.

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Ultrapassar a concorrência: até agora, a Zume Pizza não “refletiu” as poupanças de custos nos consumidores. Em vez disso, focou-se na redefinição dos processos de produção e distribuição, bem como em oferecer uma melhor experiência aos colaboradores. Mas, ao enfrentar a Domino’s e outros concorrentes, a capacidade de reduzir os preços poderá representar uma vantagem competitiva sólida. É aqui que a questão da empregabilidade surge: a automatização diminui a quantidade necessária de colaboradores por unidade produzida, mas se, o menor tempo necessário, permitir uma diminuição dos preços e uma melhor experiência do consumidor, o efeito de “expansão do mercado” que daqui resulta poderá ultrapassar os ganhos de produtividade. E, assim, resultar na criação de empregos adicionais.