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IA e Saúde, novo terreno a explorar no design da experiência

Para o público em geral pode passar despercebido, mas a verdade é que o setor da saúde encontra-se em plena transformação. Todos os dias, milhões de dados clínicos, de milhões de pacientes, estão a ser recolhidos e podem vir a ajudar a tratar pacientes oncológicos ou com Alzheimer. A inteligência artificial está a liderar esta revolução e a promover a entrada da Saúde numa nova Era.

Ainda não sonhamos com um cenário semelhante ao WestWorld ou fantasiamos acerca do trans-humanismo. Mas antevemos que esta nova Era trará grandes desafios no design da experiência, que incidirá em 3 grandes benefícios para os utilizadores.

O paciente aumentado

Inteligência artificial + objetos conectados = paciente aumentado

Todos os objetos conectados geram um volume considerável de dados extremamente valiosos, porque são recolhidos em contextos cada vez mais qualificados. Por exemplo, durante a prática desportiva, leitura, sono, nutrição, etc. Nunca os sensores e os transmissores (pacientes) estiveram tão próximos e produziram dados tão precisos.

Hoje, os pacientes acedem autonomamente às suas métricas, monitorizam-nas em tempo real e de forma contextualizada. Tendencialmente, são os primeiros a fazer uma avaliação dos seus sintomas. A startup Medicus, por exemplo, simplifica a leitura de relatórios médicos ao traduzir o resultado de colheitas de sangue para uma linguagem visual, simples e fácil de compreender.

Com a facilidade de acesso aos dados clínicos, analisados através de inteligência artificial, cada indivíduo terá uma responsabilidade acrescida em relação à sua saúde, nunca antes experienciada. O que irá reduzir consideravelmente a assimetria de papéis entre pacientes e médicos.

Uma medicina aumentada

Medicina movida a inteligência artificial = medicina aumentada

Tipicamente, o poder das tecnologias de machine learning e deep learning deriva da quantidade massiva de dados recolhidos (hoje atingem volumes inéditos graças aos objetos conectados). Por isso, a recolha contínua de dados será vital para ensinar e nutrir os algoritmos de inteligência artificial.

Todos estes mecanismos vão permitir enriquecer consideravelmente, e permanentemente, o conhecimento sobre o funcionamento do corpo humano e como responde a diferentes tratamentos. Por fim, vão conduzir a medicina a um nível de precisão sem precedentes, permitindo aos profissionais de saúde antecipar a evolução de uma patologia face a determinado tratamento e fazer ajustamentos. E com isto abre-se a porta a uma medicina personalizada, mais poderosa e preditiva.

Transformação dos percursos dos cuidados de saúde

Inteligência artificial + medicina aumentada = transformação dos percursos dos cuidados de saúde

Estamos convictos de que a medicina aliada à inteligência artificial vai ser capaz de transformar os percursos dos cuidados de saúde existentes, nomeadamente acelerar determinadas fases, reorganizar etapas e redefinir papéis. Destacamos 2 evoluções principais:

  • Fim dos exames médicos: desaparecimento de um momento chave nos cuidados, substituído por uma experiência invisível. 

Hoje, os exames médicos são um momento chave dos cuidados de saúde para médicos e pacientes, pois são a primeira interação significativa entre ambos e um momento de confidências. A recolha de dados, através dos objetos conectados, e a sua análise permanente e em tempo real, por algoritmos de inteligência artificial, tornará a análise de sintomas invisível, permanente e faseada no quotidiano dos utilizadores. É por isso expectável que o paciente se apresente diante do médico com um conjunto de dados organizados e analisados com base em sintomas e já com um diagnóstico praticamente concluído. Tal resulta numa transformação do propósito de uma consulta.

  • Monitorização permanente e medicina orientada aos dados: em direção a cuidados de saúde à luz do design de antecipação.

A monitorização dos dados permite aos profissionais de saúde assumir, cada vez mais, um papel de monitorização e prevenção. No futuro, a prestação de cuidados com base na inteligência artificial vai permitir, por exemplo, antecipar a necessidade de consultas. A monitorização destes dados permite também otimizar o nível de cumprimento dos tratamentos prescritos por parte dos pacientes e, assim, marcar encontros nos momentos mais pertinentes.

Assumindo que estas são (as primeiras) transformações e oportunidades primordiais para tornar o nosso sistema de saúde mais eficiente, user-centric e, em última instância, proporcionar uma melhor saúde a todos, não podemos negligenciar as repercussões desta nova medicina. Por um lado, a redefinição do papel e posicionamento do médico, impulsionado por estas novas ferramentas que interveem na relação paciente-médico e nos tratamentos. E, por outro, uma prestação de cuidados forçada a inovar.

Medicina aumentada pela inteligência artificial = um médico cujo papel pode ser reinventado

No futuro, grandes players no domínio da inteligência artificial, como a Google, IBM, ou startups promissoras, como a Sophia Genetics serão capazes de expor a um médico um diagnóstico seguro, em menos 20 segundos e com base numa biblioteca infinita de dados clínicos. Os algoritmos de inteligência artificial serão os aliados dos médicos na definição personalizada do tratamento a ser prescrito.

As tarefas técnicas são deixadas à responsabilidade da inteligência artificial, dando espaço aos médicos para reinventar a sua relação e consultas com os pacientes. Daqui surgirá uma nova relação, mais centrada no valor humano e em novos serviços.

Consultório médico = nova plataforma de serviços de tratamento

Neste contexto de medicina “movida” a inteligência artificial, utilizadores finais “aumentados”, relação com os profissionais de saúde e de prestação de cuidados reinventados, recursos como o consultório médico ou o hospital não serão desperdiçados. Pelo contrário, terão de ser vistos como plataformas “APIfiáveis” e data centers, cruzados com os dados dos objetos conectados, análise das bibliotecas médicas e com os algoritmos.

O consultório médico vai transformar-se em torno desta “plataformização”. Projetos como a Forward, um híbrido entre um consultório médico e uma loja da Apple, lançado em São Francisco, mostram-nos que os espaços de saúde físicos também carecem de ser reinventados com base numa visão user-centric.

Como em qualquer modelo em plataforma, para a saúde esta é uma oportunidade de renovar o modelo económico, abrindo portas à rentabilização de novos serviços de saúde à distância ou uma prestação de cuidados associada a um ambiente físico.

Para concluir, a tão aguardada inteligência artificial é sinónimo de uma profunda alteração de paradigma nos nossos sistemas de saúde. Mas antes de cumprir todas as suas promessas – as mais (loucas?) audazes – os desafios são grandes:

  • A definição de um enquadramento regulamentar e ético que permita que estas alterações se desenvolvam dentro de um modelo social justo e que promovam cada vez mais o acesso aos cuidados de saúde.
  • O domínio e gestão da próxima “guerra” dos dados: na nova economia da saúde, o conjunto de dados à disposição será a vantagem competitiva chave para diferentes tecnologias de inteligência artificial. E definirá a pertinência técnica de um serviço proposto.
  • A redefinição de papéis no ecossistema de saúde: os novos cuidados de saúde deverão repensar os papéis dos médicos, farmacêuticos, enfermeiros, etc., de forma a facilitar a relação humana.

Quem irá vencer estes desafios? É importante perceber que, hoje, o quadro regulamentar concede algum tempo às empresas “tradicionais” para uma adaptação aos players nativos (peritos em tecnologias de inteligência artificial que se desenvolvem a um ritmo galopante). Contudo, tal como em todas as inovações passadas, a nossa convicção é de que o player que oferecer a melhor experiência do utilizador, quer aos pacientes, quer aos profissionais de saúde, será aquele que mais beneficiará desta revolução.

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