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África, terra de inovação

Abderrahmane-

Artigo de Abderrahmane Chaoui, Lead Strategist na FABERNOVEL Paris

O palco de desenvolvimento da tech africana vai de vento em poupa. Apoiada por governos que permitiram as ligações dos países às redes de fibra submarina e inspirada por histórias de sucesso recentes. Este desenvolvimento da tech africana afirma-se de dia para dia, já com um unicórnio, a Jumia, e várias startups da “Silicon Savannah” (Quénia) e de Lagos (Nigéria) que rivalizam na inovação e fazem-se ouvir no ocidente.

Na maioria dos países africanos, há mais telemóveis do que habitantes adultos. No Quénia, segundo a Autoridade Nacional Reguladora das telecomunicações (CAK), o número de subscrições atingiu os 38,9 milhões em 2016, para uma população de 28 milhões de adultos com mais de 15 anos (aproximadamente 48 milhões no total). De um ponto de vista mais geral, a rede mundial de operadores móveis GSMA estima que o número de subscritores africanos subiu 70% desde 2010 e, segundo o Think Thank Idate, estima-se que a contribuição da indústria do mobile para a economia da África subsaariana passará de 95.500 milhões de dólares em 2015 para 111.000 milhões de dólares em 2019. Se atingimos, hoje, uma taxa tão elevada de equipamentos, é porque, tal como na China, o mobile se presta particularmente bem às especificidades do continente:

  • Uma taxa de analfabetismo elevada que privilegia a utilização de serviços baseados em voz (VoIP, assistentes vocais…).
  • Uma densidade de população muito fraca com lares afastados dos centros urbanos e das comodidades quotidianas (trabalho, saúde, etc.).
  • Uma dificuldade de planeamento financeiro dos indivíduos para a qual o modelo de pay per use é uma excelente solução.
  • E, finamente, a falta de infraestruturas que acaba por potenciar o desenvolvimento do mobile, como tecnologia de rutura que é auto-suficiente.

A chegada do mobile impõe novas formas de comunicar, de consumir e de pensar. Novos serviços inovadores emergem, respondendo de forma simples às necessidades locais, adaptando-se às utilizações e às especificidades locais. No entanto, em muitos casos, essas necessidades correspondem a serviços que supostamente deveriam ser assegurados pelos Estados e nascem da falta de infraestruturas básicas (acesso a água, a eletricidade, a serviços bancários básicos…). É precisamente este o poder do digital: o de transformar esses desafios em oportunidades. No caso particular de África, o de inventar através do digital. Este continente tem a oportunidade de definir seus próprios padrões e de traçar a sua trajetória de desenvolvimento à sua maneira.

A promessa africana

Africa é uma promessa, um convite à inovação para todos os que sabem e querem imaginar a África de amanhã.

As restrições e os desafios deste continente são um terreno fértil à criatividade e à inovação. África é realmente forçada a conceber novas soluções para se desenvolver mesmo sem as infraestruturas básicas sobre as quais assentam a maioria dos produtos e serviços desenvolvidos no Ocidente, e isso dá origem a iniciativas excecionais.

O exemplo da M-PESA

Lançado em 2007 pela Vodafone para a Vodacom e a Safaricom, a empresa nacional de telecomunicações do Quénia, a M-Pesa (M para celular, Pesa significa dinheiro na Swahili) foi originalmente concebida para permitir o reembolso de dívidas de micro-crédito por telefone, com a promessa de reduzir os custos relacionados a gestão de dinheiro em cash (transportes, risco…) e de poder aplicar uma taxa de juro mais baixa (tornando possível a transferências de cêntimos).

O lançamento de uma versão piloto permitiu medir a apetência da população para um serviço deste género e encorajou a Safaricom a alargar a sua oferta para um sistema de transferência de dinheiro. O sistema alavancou-se numa rede de pequenos comerciantes, dispersa por todo o país e de fácil acesso para os utilizadores que pretendem depositar ou levantar dinheiro.

Este serviço facilitou os pagamentos entre particulares, facilitando o afastamento das famílias entre as zonas rurais e urbanas, bem como facilitando as transações comerciais, sem esquecer que se tornou também uma alternativa mais segura para os comerciantes. Em poucos anos, este sistema de pagamento virtual substituiu quase por completo o dinheiro em cash no comércio e nas repartições. Hoje, permite que 70% da população tenha acesso a serviços bancários básicos e é responsável por 9 milhões de transações diárias, representando 25% do PIB nacional.

Os benefícios da M-Pesa estendem a todo o país. Um estudo demonstrou recentemente que as famílias rurais com M-Pesa aumentaram seus rendimentos entre 5 a 30%. Além disso, este sistema permitiu o surgimento de um grande número de startups que basearam o seu modelo de receita na plataforma de pagamento. Atualmente a M-Pesa até acolhe algumas delas na sua incubadora em Nairobi.

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Fonte: The Independent

M-Pesa é uma plataforma que se alavanca nos 4 super poderes da Network Economy descritos no estudo GAFAnomics – 2ª temporada da FABERNOVEL. Primeiro, o seu sistema assenta numa rede de comerciantes independentes que rapidamente ultrapassou o número de agências bancárias. Em 2010, 3 anos depois do seu lançamento, a rede contava com 17.600 parceiros contra 840 agências bancárias. Com este modelo, adicionar um novo comerciante à sua rede representa um custo marginal igual a zero, enquanto que construir uma nova agência já representa um investimento. A M-Pesa é uma empresa infinita.

Segundo, a M-Pesa transforma-se rapidamente e acrescenta novos serviços à sua plataforma, propondo hoje produtos de poupança aos seus utilizadores, sendo possível pagar salários ou regularizar uma fatura via M-Pesa. A plataforma sabe crescer acompanhando as utilizações dos seus utilizadores. É uma empresa em tempo real.

A M-Pesa criou valor de utilidade ao permitir que os micro-pagamentos fossem possíveis até aos $0,10 cêntimos. A plataforma consegue gerir simultaneamente múltiplas transações de baixo valor. A M-Pesa é hoje também utilizada por empresas e por startups que assentam os seus modelos na sua plataforma, ou seja, é uma empresa magnética.

E por último, a plataforma capta uma quantidade importante de dados sobre os utilizadores e pode, amanhã, utilizar estes dados para personalizar ao máximo os seus serviços de acordo com cada utilizador. A M-Pesa pode tornar-se uma empresa íntima.

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Fonte: CNN

O facto de ter estes “4 superpoderes” faz da M-Pesa uma empresa que tem tudo para ser um sucesso na nova economia. Desde a sua criação com um modelo de test and learn e com o seu modelo de negócio inovador que reproduz a estrutura de sucesso das grandes plataformas digitais, a M-Pesa é uma empresa da nova economia. Foi pioneira nos sistemas de pagamento por mobile concebendo um modelo adaptado às especificações locais, que soube responder aos verdadeiros desafios de desenvolvimento do país, e cujo o seu desenvolvimento foi conduzido de forma inovadora, uma verdadeira fonte de inspiração para as empresas ocidentais. Mickael Joseph, antigo diretor da Safaricom e quem esteve na origem do lançamento da M-Pesa, é hoje diretor da Mobile Money do grupo Vodafone, com a missão de passar as suas aprendizagens a todo o grupo.

Uma promessa que não espera

Já não ficamos surpreendidos ao saber que as grandes empresas tecnológicas têm consciência do potencial de inovação e de crescimento deste continente, sobretudo depois das derrotas na travessia da muralha da China. Os grandes players da nova economia começaram já a avançar os seus peões no tabuleiro de xadrez Africano adoptando diferentes estratégias:

  • Superar a falta de infraestruturas

Face ao isolamento de zonas rurais Africanas, isentas de conectividade duas iniciativas foram levadas a cabo. Os projetos Loon da Google e Internet.org do Facebook têm como objetivo oferecer internet gratuita a estas populações, afastadas das zonas de desenvolvimento. Através de balões que funcionam como antenas enviados para a estratosfera, no caso da Google, ou de drones com baterias solares e satélites, no caso do Facebook, o objetivo destes dois players é o de substituir o papel dos Estados, oferecendo uma infraestrutura que se tornou básica para todas: a internet.

Apesar da ideia ser nobre no papel, estas duas iniciativas já foram alvo de várias críticas de empreendedores Africanos. Isto porque os beneficiários desta internet gratuita não são os beneficiários que vão descobrir a internet pela primeira vez, mas sim os que recorrem à internet gratuita quando o pacote de telecomunicações ficar esgotado… Ou seja, nada de novo.

Por outro lado, associações como a Paradigm Initiative na Nigeria defende que o acesso à internet grátis deve ser acompanhado de um trabalho no terreno que visa formar as pessoas na sua utilização, caso queiramos que a utilização seja benéfica.

Finalmente, uma crítica persistente do Facebook na Índia e em África tem que  ver com o lado restrito da internet que foi proporcionado (apenas acesso ao Facebook e poucos outros acessos), ou seja, uma lógica restrita e oposta à lógica de abertura e de liberdade com que foi concebida inicialmente esta ideia.

Face a esta iniciativas e aos seus limites, uma startup Queniana, BRCK, concebeu um dispositivo menos controverso e igualmente eficaz que é hoje utilizado no Wisconsin nos Estados Unidos. Voltaremos a ela mais à frente.

  • A capacidade de desenvolvimento

Outras empresas, por vezes as mesmas, optaram por capitalizar sobre os utilizadores Africanos e sobre as dificuldades que têm em ultrapassar as dificuldades estruturais que os rodeiam. Seja colocando à disposição tecnologias, seja no desenvolvimento de competências com vista à criação de futuras condições de emancipação do continente, são táticas que respondem à mesma estratégia de desenvolvimento de competência.

A IBM lançou o seu projeto “Lucy” em 2014, disponibilizando a sua solução de inteligência artificial, Watson, à disposição dos investigadores da IBM em África, bem como dos parceiros académicos e científicos locais para tentarem encontrar soluções para os principais defasios do continente Africano graças à AI e ao Big Data: saúde, água potável, educação, mobilidade e agricultura.

Algumas experiências já foram levadas a cabo, nomeadamente em Lagos onde a Câmara Municipal está a utilizar Big Data para regular o trânsito.

A Google anunciou também, aquando da visita do CEO da Google, Sundar Pichai a Lagos, no verão passado, a sua iniciativa Digital Skills for Africa que visa dar formação sobre competências digitais a 10 milhões de Africanos. Pichai anunciou igualmente investir 20 milhões de dólares na Google.org para apoiar iniciativas inovadoras que visam melhorar o quotidiano das pessoas. Para concluir a sua visita, o CEO da Google anunciou a abertura de uma segunda aceleradora em Lagos, capaz de entrar com participações na ordem dos 3 milhões de dólares e acompanhando 60 startups africanas durante 3 anos, tal como o lançamento de novos produtos Google adaptados a especificidades locais (baixa velocidade, infraestruturas fracas, etc.).

  • A exploração da inovação local

E finalmente, a última estratégia consiste em criar condições locais propícias à inovação. As empresas que escolhem esta opção consideram que o ecossistema local já é suficientemente maduro para desenvolver iniciativas inovadoras. A SAP anunciou, um investimento de 500 milhões de dólares até 2020 de forma a financiar a inovação em África e anunciou a abertura de um laboratório de co-inovação na África do Sul.

Os operadores de telecomunicações desempenham igualmente um papel ativo na inovação local, primeiro como incubador, tal como a Orange no Senegal ou a MTN no Nigéria, ou até mesmo financiando startups através de fundos de investimentos ou de concursos. Por exemplo, na África do Sul, a MTN associou-se ao site de e-commerce Jumia e ao Facebook para criar um concurso de aplicações mobile oferecendo aos vencedores um prémio de 25.000 dólares, mentorado dado pelas equipas da Jumia e um acesso à plataforma de desenvolvimento de aplicações Facebook Start.

O banco Francês Société Générale que está presente em 18 países Africanos tem contribuído ativamente para a inovação no continente, nomeadamente através de um “lab de inovação” em Dakar, em 2016, tendo como vocação estimular e acelerar a inovação em todas as suas filiais da África Subsaariana. Este laboratório de ideias, virado para a ação, serve de incubador para iniciativas inovadoras, nomeadamente as que nascem nas filiais da Société Générale no continente.

Seja para tirar benefício imediato, seja enquanto investidor de médio ou longo prazo, é evidente que as grandes empresas estão a apostar no mercado Africano e querem ser players na transformação digital do continente. Se a China se transformou sozinha, a comparação termina aqui. É certo que a África vê o sol nascer a Este com muito entusiasmo, mas o continente precisa de capital material e imaterial ocidental para ter o mesmo destino que a China e tem, por isso, muito a ganhar em atrair investidores estrangeiros.

Se isto é verdade, quais as razões que tornam a inovação em África favorável para todos? Porque é interessante para as empresas ocidentais irem inovar em África?

4 características que tornam África atrativa na inovação

1- Restrições estimulantes
A África é conhecida pelas dificuldades estruturais importantes que são inegáveis obstáculos para o desenvolvimento de atividades comerciais tal como as conhecemos na Europa. Esta verdade colocou durante muito tempo muitas dificuldades de implementação de empresas estrangeiras no continente. E é verdade que muitos obstáculos se opõem na aplicação de formas provadas no comércio mundial – entre outros a falta de infraestruturas de transportes, a falta de quadros qualificados entre a população ou ainda a instabilidade política e contextual (fome, guerra…).

CityTaps é uma startup francesa que decidiu atacar o problema da falta de água potável nos lares da periferia das grandes cidades. Numerosas famílias, vivem em condições de precariedade e de elevada instabilidade não conseguindo pagar as suas faturas mensais. São os operadores locais que avaliam o risco de investimento elevado necessário à construção de uma rede subterrânea. Ao desenvolver um contador inteligente e uma válvula conectada a um servidor Cloud que recupera e calcula os dados de consumo dos lares, e isto tudo associado a um sistema de pré-pagamento via mobile, a CityTaps permite aos lares beneficiarem de água potável através de um modelo de pay per use mais adaptado à incerteza e ao modo de vida dos utilizadores, e permitindo segurança aos operadores de água potável em relação à rentabilidade do seu investimento.

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CityTaps // Fonte: Maddyness

BRCK, é uma startup Queniana que desenvolveu o seu SupaBRCK, uma caixa solar de WiFi resistente à água, que permite a difusão de 3G. A primeira versão da caixa, lançada em 2013 permitia que 20 aparelhos se conectassem via WiFi ou USB com 8 horas de autonomia de bateria para responder aos cortes de electricidade. O SupaBRCK permite, agora, que 100 utilizadores se conectem simultaneamente e lançou também a Moja, a internet pública gratuita com publicidade. Desde 2016, a startup tem apostado também na educação através dos seus tablets KIO e desenvolveu, no verão passado, o Pico-BRCK, uma versão ultra-robusta concebida para a Internet das Coisas (IoT).

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BRCK Education // Fonte: CNN
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Kio Kit da BRCK // Fonte: BRCK

A OkHi é uma startup Queniana que desenvolveu uma solução destinada às pessoas que não têm uma morada fixa. O serviço proposto permite localizar o domicílio da pessoa através das coordenadas de GPS e de uma foto da entrada da casa, e de enviar essas informações através de um link por WhatsApp, SMS ou ainda por email. Fundada em Nairobi por um ex-colaborador da Google e do YouTube em Londres, a startup irá brevemente apostar em restaurantes, empresas de e-commerce e serviços de urgência para se desenvolver. Segundo os números da empresa, 80% das entregas da capital são efetuadas através da aplicação que tem 30.000 utilizadores regulares particulares. A OkHi não foi a única startup a debruçar-se sobre este tema. Aplicações similares utilizam a geolocalização para criar uma morada: a LocName no Egito, a What3words, desenvolvida por uma startup britânica, ou ainda a Anwani, uma aplicação que cria moradas GPS seguras com códigos PIN únicos.

 

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OkHi // Fonte: Design to improve life

Estas empresas são um exemplo. Em vez de se resignar face às restrições estruturais do continente Africano, preferiram responder com engenhosidade, imaginação e vontade de execução. É sobre estes 3 aspetos que a situação é encorajadora para as grandes empresas europeias, que dispõem de engenharia e de capital necessário para inventar e desenvolver soluções a larga escala.

2- Novos tipo de utilizações por criar
Mas porque não fazer o mesmo que na Europa, em que empresas já estão estabelecidas? Ao contrário da Europa, Africa viveu um salto tecnológico que permite, hoje, aos Africanos queimar etapas e ser mais receptiva às inovações. Ao contrário da Europa, a tecnologia não é a ruptura de uma tecnologia precedente e por isso, a transição é muito menos delicada e mais barata de concretizar.

Estes dois aspetos constituem tanto barreiras ou travões à inovação como o desenvolvimento tecnológico no velho continente. As utilizações da população evoluem lentamente e são difíceis de reprogramar quando chega um novo produto ou serviço, tanto quanto as tensões entre os taxitas e os Ubers quando surgiram ilustrando um outro aspeto: a rigidez e a proteção dos sectores estabelecidos.

Em África, as utilizações criam-se e desenvolvem-se ao ritmo do aparecimento das tecnologias, dos serviços ou dos produtos inovadores. A M-Pesa, a plataforma de pagamento mobile é um bom exemplo disso. As suas utilizações não existiam em nenhum local no mundo em 2017 e impuseram-se com uma facilidade desconcertante no Quénia.

Quando as preferênciaS ainda não estão estabelecidas nas utilizações dos indivíduos, basta que o produto ou o serviço responda de forma simples e prática ao problema para as utilizações se desenvolvam.

As parecenças entre a Sendy, a startup de entregas no Quénia e a Uber é impressionante. Neste caso, as mercadorias destinadas aos clientes tomaram o lugar destinado às pessoas no banco de trás, graças a uma aplicação mobile muito cuidada e de extrema simplicidade. Com a explosão das classes médias, a vaga de e-commerce está a entrar progressivamente no continente Africano. Cada vez mais startups posicionam-se na venda online como a Konga, a Olx ou ainda Jumia e HelloFood (estas duas últimas apoiadas pela Rocket Internet) e destinam-se a um mercado onde os obstáculos logísticos, infinitamente mais complexos do que na Europa, são encarados como desafios a contornar em vez de travões à iniciativa.

O sucesso da Jumia, o primeiro unicórnio Africano (startup avaliada em mais de mil milhões de dólares) apoiada pela Rocket Internet, demonstra a facilidade de uma empresa se adaptar à evolução das utilizações e das tecnologias. Num sector onde, na Europa, as infraestruturas de transportes de qualidade e em que a bancarização dos consumidores são necessárias, a startup soube adaptar-se às utilizações locais e fazer evoluir a sua oferta. Propondo inicialmente um modelo de cash on delivery, foi pouco a pouco introduzindo funcionalidades de pagamento mobile, de tracking de encomenda à medida que ia sendo possível em cada país onde esta Amazon Africana está implantada.

Uma das constatações mais invejáveis quando se observa o continente Africano é a simplicidade com que são desenvolvidos os novos serviços. Em Abidjan, por exemplo, onde o tráfego nas estradas é um verdadeiro problema urbano e onde já foram testadas várias soluções de Big Data sem sucesso, a solução que acabou por funcionar é de uma simplicidade e de uma eficácia surpreendente. Vários badges foram instalados nos automóveis, regulando o direito à passagem em certas zonas e a certas horas. Esta solução mostrou-se formidavelmente eficaz e representa um custo marginal quase zero. Esta simplicidade é rentável e esta simplicidade adapta-se perfeitamente aos contextos Africanos.

3- A oportunidade de reaprender a fazer simples
Na Nigéria, o programa SMART foi lançado para a detecção precoce da SIDA em jovens crianças. Este tipo de diagnóstico, feito através de uma análise sofisticada e realizada por um laboratório com um elevado nível de expertise, acessível a poucos na Nigéria.

Os centros médicos rurais, longe de tudo e desprovidos de material suficiente vêem-se forçados a enviar amostras para os grandes laboratórios e a esperar vários dias antes de receber os resultados das análises, o que pode tornar-se fatal para muitas crianças.

Para fazer face a este desafio, a Clinton Health Access Initiative (CHAI) associou-se a 2 empresas de engenharia e concebeu uma “impressora de SMS” que ao imprimir os resultados das análises no papel envia automaticamente um SMS com os resultados para o centro de saúde (sem que seja necessário ligação à internet ou computador), reduzindo para metade o tempo de espera e permitindo os diagnósticos atempados.

O programa intitulado SMART (SMS Printers to Accelerate Return of Tests Results for Infant Diagnosis of HIV/AIDS) assenta num modelo simples, cuja a operação e a manutenção podem ser asseguradas por pessoal não especializado em zonas mais complicadas. Os resultados são conclusivos e permitem uma intervenção médica rápida e apropriada.
A simplicidade como que este produto foi desenvolvido caracteriza a inovação em África.

Lá imaginamos soluções simples para responder a problemas complexos quando Na maioria do tempo no ocidente imaginamos soluções complexas para responder a problemas simples.

É uma das riquezas da inovação Africana que deve inspirar as grandes empresas e é uma das razões pelas quais se deve ir para África. Para aprender, ou melhor, reaprender. Reaprender a fazer coisas simples, simplesmente.

Em África, basta que o produto seja bem concebido para se impor. É precisamente esta fase de design que interessa para as empresas. Para Jean Nouvel “o design consiste em colocar um objeto em sintonia com a cultura e as utilizações de uma determinada época”. Esta definição resume perfeitamente um desafio e uma oportunidade para as grandes empresas que decidem ir para África. Responder a uma problemática local, oferecendo um interface simples, baseado numa solução simples, é a chave do sucesso.

Hoje, é a vez do mundo se inspirar em África e no modelo de inovação que este continente proporciona.

Numerosos produtos desenvolvidos em África são imitados ou utilizados no estrangeiro. É o caso da startup Ushahidi que desenvolveu uma aplicação de crowdsourcing durante a vaga de violência que sucedeu as eleições de 2007 no Quénia e que é, hoje, utilizada para abordar várias temáticas em países emergentes ou desenvolvidos: para a violência praticada contra mulheres na Índia, para evocar os disfuncionamentos urbanos em Dublin, ou ainda, mais recentemente para abordar as eleições presidenciais. A caixa da BRCK (já abordada) que acabou por ser implementada no Wisconsin e a M-Pesa anunciou a abertura na Índia.

Algumas empresas africanas que se estendem ao estrangeiro criam uma dinâmica de mercado local que permite a emergência de um verdadeiro tecido de startups ainda concentradas em alguns Hubs por enquanto, mas que constituem pouco a pouco um verdadeiro ecossistema.

4- Um ecossistema local de apoio
Este ecossistema é, por enquanto, concentrado entre Nairobi no Quénia e Lagos na Nigéria. O primeiro hub tecnológico Africano, iHub Innovation, foi criado pelo fundador da Ushahidi, Erik Hersman em Nairobi, em 2010. Ele conseguiu reunir empreendedores, investigadores, investidores e parceiros tecnológicos. Conta hoje com 15.000 membros e 152 empresas incubadas. Desde então, vários hubs viram o dia na África do Sul, na Nigéria (CCHUB) e começam a propagar-se pelo Norte e Este de África.

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iHub // Fonte: CBnews