Após 3 anos de testes e da introdução do video-árbitro (VAR – Video Assistant Referee) no Mundial de futebol em 2018, a FIFA prepara-se para lançar, no Mundial do Qatar, a próxima grande tecnologia no futebol. A deteção semiautomática de um fora de jogo (SAOT – Semi-Automated Offside Technology). Gianni Infantino, o presidente da FIFA, disse que iria “aproveitar todo o potencial da tecnologia no futebol e aprimorar ainda mais o VAR”.
O desporto foi apenas mais uma indústria a ser revolucionada com a tecnologia, que foi fundamental para melhorar a qualidade dos jogos, dos jogadores e do espetáculo, porém, ainda está longe de funcionar de forma eficaz. Mas para lá vai caminhando.
Esta nova ferramenta tem como objetivo fazer um “upgrade” ao atual VAR, tornando assim as decisões dos árbitros cada vez mais rápidas e eficazes. Obviamente, que promove também o espetáculo, evitando as longas pausas para que se tome uma decisão, que muitas vezes é errada e polémica, gerando desconfiança e críticas dos jogadores, treinadores e sobretudo dos adeptos. Atualmente, o tempo médio de decisão do VAR é de 70 segundos e com a utilização do SAOT estima-se que vai passar a ser apenas de 25 segundos.
Muitas pessoas são da opinião que o VAR veio estragar o futebol e tirar a emoção ao jogo, porque dizem já não saber festejar um golo, porém eu não vejo as coisas dessa forma. Acredito que a introdução desta tecnologia veio e muito ajudar a tornar o jogo mais honesto e eficaz, porque o que tira emoção e prazer ao jogo é o facto de uma equipa ganhar com um golo fora de jogo ou não serem assinaladas faltas que podiam mudar por completo a história de um jogo. Quem é contra a utilização do VAR certamente não se recorda dos anos 80 e 90 no futebol português e dos escândalos de corrupção que existiram. Se na época uma tecnologia como esta existisse, certamente polémicas, que ainda hoje são faladas, não seriam um tema e os palmarés dos clubes também seriam diferentes.
O facto de os adeptos se revoltarem com os árbitros passa muito por não terem acesso aos motivos das decisões e por indiciarem automaticamente que foram corrompidos. Muitas vezes apenas erram por um simples motivo: são humanos. Algo que muita gente não percebe, eu inclusive, é a razão pela qual a comunicação entre os árbitros e VAR não ser pública quando já existe tecnologia mais que suficiente para que isso seja uma realidade e até já ter sido utilizada na Austrália e nos Estados Unidos. Não só era uma medida melhor para os adeptos, para que pudessem (tentar) perceber o ponto de vista dos árbitros, como era melhor para os próprios árbitros, como meio de proteção e transparência, para explicar as suas decisões.
Durante o Mundial de futebol, uma animação 3D será transmitida nos ecrãs gigantes dos estádios e nas televisões, tal como acontece atualmente com a tecnologia da linha de golo, para que a verdade desportiva prevaleça e os espectadores possam entender e acompanhar as decisões do VAR de forma clara.
Contudo, a tecnologia não evoluiu apenas para ajudar a tornar as decisões que influenciam o jogo mais eficazes. Hoje, também já existe tecnologia altamente avançada para fazer o seguimento do desempenho dos jogadores, permitindo aos analistas recolher dados quantitativos e qualitativos dos treinos e dos jogos, através de um GPS que é usado pelos atletas. Desta forma, os clubes conseguem estudar as contratações que ambicionam fazer, como é que cada jogador pode encaixar na equipa e os esquemas táticos onde têm maior rendimento. Ao ter acesso a todos estes dados, os clubes estão dispostos a pagar mais por certos jogadores, porque a probabilidade de corresponderem ao rendimento esperado é maior.
A utilização de cada vez mais e melhores tecnologias tem tornado não só o futebol, mas também outros desportos muito mais competitivos, atraindo mais fãs, patrocínios e investidores. Nos últimos anos, têm surgido muitas startups, como a Playerdata ou a Playermaker, que se focam na melhoria da performance dos jogadores através da utilização de GPS e outras, como a Immersiv.io, a Sorare e a ReSpo.Vision, que ajudam a tornar o espetáculo para os adeptos mais atraente e profundo através da realidade virtual.
Com o surgimento de diferentes e novas tecnologias, startups e dispositivos é interessante tentar perceber qual vai ser o impacto da tecnologia no jogo daqui a 5 ou 10 anos, pois todas as épocas é introduzido algum tipo de ferramenta para tornar o espetáculo mais atrativo para todos.
As ferramentas que nós utilizamos no dia a dia estão cada vez mais sofisticadas e eficientes, e no futebol e desporto em geral isso também é uma realidade que abrange todos os intervenientes do jogo. Não seria de esperar uma tecnologia completamente perfeita nos primeiros anos de introdução de um novo instrumento, pois tal como os nossos computadores necessitam de atualizações de software para se tornarem mais eficazes, uma funcionalidade como o VAR ou o SAOT também vai evoluindo época após época.
Posto isto, entendo que nunca vai deixar de haver polémica porque a forma como se interpretam as diversas situações polémicas que acontecem num jogo de futebol vai sempre variar de pessoa para pessoa. Vai-se sempre discutir se o VAR devia ou não intervir numa dada situação por muito evoluída que a tecnologia se torne. Enquanto a decisão do homem prevalecer sobre a decisão das máquinas, o erro humano vai inevitavelmente existir, mas a tecnologia tem um papel de extrema importância para que o ser humano consiga otimizar todos os seus processos nas diversas áreas da sociedade, dos negócios e lazer.