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Apple: Tim Cook, a passagem de gestor para líder

No passado dia 29 de Outubro, duas tempestades assolaram os Estados Unidos, na Costa Este o furação Sandy revirava Nova Iorque provocando enormes estragos. Enquanto na Costa Oeste, o “furacão” Tim Cook abanava a maior empresa do mundo, a Apple, com o anúncio da saída de dois vice-presidentes.

E se John Borwett, vice-presidente com a responsabilidade do retalho e lojas, ainda não tinha “peso” na estrutura, o mesmo não acontecia com Scott Fortsall – vice-presidente com a responsabilidade do sistema operativo móvel iOS. Por isso, o ponderador que Tim Cook usou na sua decisão foi distinto…

John Borwett estava na Apple há nove meses e foi uma contratação da responsabilidade de Tim Cook. A sua saída representa assumir um erro de “casting”… e é uma situação normal para quem recruta. Mas, a rapidez de perceber e assumir o erro demonstra a humildade vital para conseguir o estatuto de líder. E foi isto, que Tim Cook demonstrou nesta situação.
Borwett, tinha deixado o lugar de CEO da empresa inglesa Dixons (produtos de electrónica de consumo).
A sua saída deve-se a não ter entendido o ADN da Apple, onde os consumidores e colaboradores estão no topo das prioridades (e não o lucro da empresa ou os prémios dos seus gestores).

Em Junho de 2012, a Apple anunciou um aumento de 25% no salário dos seus colaboradores das lojas. A medida foi anunciada como tendo sido uma decisão de John Borwett, mas é contraditória com a decisão que anunciou dois meses depois, um corte do número de horas semanais dos mesmos colaboradores (baixando os salários dos colaboradores). Medida que foi imediatamente anulada e levou a Apple através do seu porta-voz Kristin Huguet em comunicado a informar que “Estas alterações foram um erro e já foram anuladas… os nossos empregados são o nosso mais importante ativo e são eles os responsáveis pelo excelente nível de serviço que fornecemos aos nossos clientes”, ou seja, um puxão de orelhas público a Borwett.

A “gota de água” que o colocou junto da “porta de saída”, aconteceu em Setembro, quando pré-anunciou à sua equipa de vendas que o trimestre do Natal traria novos produtos, anúncio teve como objectivo pressionar para os objectivos de venda e aumentar a rentabilidade das lojas e consequentemente o seu prémio anual (a típica visão de gestor egocêntrico e de curto prazo).

Mais uma atitude que demonstra que Borwett não entendeu a política de alto secretismo sobre os seus produtos e o respectivo calendário. E como as paredes têm ouvidos ligados à Internet, as suas declarações imediatamente foram colocadas on line… dando informação relevante aos concorrentes…

Estes dois episódios foram suficientes para Tim Cook perceber o seu erro de “casting” e agir rápido.

A saída de Scott Forstall, é um caso completamente diferente. Trata-se de um excelente e competente profissional que começou a trabalhar com Steve Jobs ainda na NExT.
Scott desfocou-se da empresa pela frustração de não ter sido “o escolhido” por Steve Jobs e pelos acionistas para o lugar de CEO. Uma clara ilusão que Scott alimentou, pois Steve Jobs já tinha atempadamente preparado e blindado o processo de sucessão.

Mas, ainda durante o período de Tim Cook como CEO interino, várias notícias foram mostrando que Scott se posicionava para suceder a Steve Jobs, colocando-lhe o rótulo de “à espera de ser CEO” (CEO in waiting).

A frustração aumentou o mau estar com os restantes colegas que se recusaram a reunir com ele sem que Tim Cook estivesse presente, como foi o caso de Jony Ive e Bob Mansfield. Este mau ambiente na gestão de topo foi noticiado por alguns media em Janeiro. Possivelmente este foi um dos motivos que levaram Bob Mansfield a anunciar a saída em Junho… mas Tim Cook conseguiu que mudasse de ideias e se mantivesse na Apple.

Em Abril, nove meses depois de Tim Cook assumir o lugar de CEO, Scott Forstall, vendeu 95% das ações que detinha da Apple. Não se trata de um investidor, mas alguém que está altamente comprometido com uma empresa e que conhece os planos para o futuro e desta forma deu um sinal de que já não confia no rumo da empresa e na sua gestão… ou simplesmente a forma que encontrou de exteriorizar uma “birra”.

Em Agosto, jantou com o presidente dos EUA Barack Obama. Que acaba por ser uma forma de demonstrar que consegue ter influência junto do “corredor democrata”…
No passado, era Steve Jobs o convidado para estes jantares e encontros com Obama. Mais uma forma de Forstall demonstrar que para Obama ele era “o escolhido”…

Em Setembro, com o lançamento do iOS 6 e com a anunciada substituição do Google Maps, os Mapas da Apple revelam algumas falhas. Scott Forstall, terá recusado assumir as falhas e pedir desculpas aos utilizadores. Foi Tim Cook que o fez…

Em Outubro, a Apple apresentou no dia 18 resultados do trimestre e fecho de contas do ano fiscal de 2012, no dia 24 a nova gama de produtos (pré-anunciada por Borwett em Setembro), onde se incluiu o novo iPad mini.

Possivelmente embalado pelo tufão Sandy, Tim Cook anuncia a saída de Scott Forstall e de John Borwett, e distribuiu novas responsabilidades a alguns dos vice-presidentes e um modelo de operação mais horizontal e integrado, garantindo maior integração operacional em todos os produtos e serviços.

Muitos analistas só viram a ponta do icebergue, a falha nos mapas da Apple…
Mas, se fosse só esta a falha certamente que Scott Forstall não deixaria a Apple, pois o seu contributo ao longo dos anos suportariam esta falha. Mas o ego e a falta de humildade foram os principais motivos para a sua saída.

Para entender as empresas é preciso perceber as pessoas e os seus comportamentos e neste campo, é necessária a ajuda de psicologia e ciência política, mais do que de gestão.

Tim Cook demonstra ser um excelente “maestro” e respeito pelo ADN que Steve Jobs implementou e desejou para o futuro da Apple, e que são a garantia manutenção da sua performance futura, e demonstra que está no caminho certo na transição de gestor para líder.

Veja ou reveja um excerto da entrevista de Tim Cook em Junho, na conferência D10 do AllThings D do Wall Street Journal:

 

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  1. Uma verdadeira novela, bem interessante e das arábias. No iPhone 5/iOS 6 tenho detectado algumas inconsistências mas a qualidade global é de outro mundo. Mais rápido, resistente, leve e fino, o 4S passa ao formato “BAJOLO”. Ainda não tem LTE, mas quando tal acontecer, wi-fi passará a demodé e operadores passarão a estar bem contentes (como já estão com alguns telefones LTE Android). A App Niiiws, para além de portuguesa passou a ser o meu vicio diário.

    As minhas reclamações: “assincronismo do flash da camera”, mapas têm pontos de interesse de tirar do sério (continuo a viver no topo da rua… mentira! 🙂 – em contrapartida o turn-by-turn é o melhor que vi num smartphone ), O Siri por não ser em português é facilmente ultrapassado pelo GVoice e é lerda a entender o meu inglês. Siri não liga bem com os pontos de interesse nacionais, therefore é para desligar. Earpods, inovadores e elegantes mas não rimam com as minhas orelhas. Couponing, loyalty com o Passbook só mesmo fora de Portugal, face a investimento e escala (estamos com “freio” activo). Por fim as pequenas “linhas no écran e fotos” desapareceram com o 6.0.1