
Netflix: o poder dos dados na criação de conteúdos originais
O Netflix é um dos serviços agregadores de conteúdos que está, claramente, a sobrepor-se à oferta dos operadores de telecomunicações e os seus conteúdos originais têm sido os grandes responsáveis pela angariação de, cada vez mais, clientes. O número de assinantes atingiu os 87,6 milhões globalmente, no último trimestre, superando em 2,5% a previsão de 85,5 milhões, e as ações subiram 20% num dia.
A empresa prepara-se para reforçar a aposta nos conteúdos originais: o budget irá crescer de 5 mil milhões (este ano) para 6 mil milhões em 2017. Como resultado, a biblioteca de conteúdos originais vai passar de 600 horas para 1.000 horas no próximo ano, o que permitirá ao Netflix não só focar-se no público de massa, mas também em programas de nicho para criar um maior envolvimento e fidelização dos clientes.
Direcionar a informação para a audiência certa
Nesta renovada aposta nos conteúdos originais, a empresa dará continuidade à estratégia de direcionar a informação para a audiência certa – o seu modelo de valor de utilidade assenta na recomendação de conteúdos com base no perfil dos utilizadores. 75% dos conteúdos consumidos no Netflix têm por base recomendações feitas individualmente, ou seja, a empresa gera um catálogo único de filmes para cada utilizador. Através da monitorização dos comportamentos dos assinantes e de algoritmos poderosos, o Netflix é capaz de construir um perfil específico de cada um dos assinantes, baseando-se nos seus gostos, comportamentos, humor ou período do dia.
O Netflix é, por isso, um bom exemplo de uma empresa íntima (um dos quatro poderes necessários para um bom desempenho de uma empresa na network economy): aproveita o conhecimento que tem sobre cada utilizador para afinar e personalizar as experiências que fornece. Desta forma, segmentando e personalizando os produtos a cada um dos utilizadores, consegue cria relações íntimas duradouras.
Conteúdos originais: o desafio
Contudo, a produção de conteúdos originais tem custos elevados e o sucesso do Netflix estará dependente da forma como o budget destinado a este fim será aplicado: se o montante for gasto só por uma questão de “gerar horas” de vídeo, a empresa corre o risco de ver o seu modelo desmoronar. No entanto, até agora, o Netflix tem apresentado conteúdos de elevada qualidade – graças ao poder dos dados na criação de novos conteúdos – e que reúnem unanimidade no que toca à forte componente de entretenimento, como é o caso de Stranger Things, The Get Down e Narcos, por exemplo.
Aquisição à vista?
Recentemente, têm surgido rumores sobre uma possível aquisição do Netflix, por parte da Disney, Amazon ou Apple. No entanto, Reed Hastings, CEO do Netflix, tem-se mostrado algo resistente à venda. Tendo em conta as suas declarações, Reed Hastings acredita que estamos no início da grande migração da televisão para a internet e, por isso, provavelmente não tenciona vender o Netflix a empresas de media, como a Disney ou CBS, mas sim a empresas tecnológicas, como o Facebook ou a Google, que têm bases de utilizadores gigantescas que ajudarão o Netflix a aumentar a sua rentabilidade.
Não há dúvidas de que o Netflix vai ter de continuar a utilizar os dados que possui para monetizar os conteúdos e de encontrar uma forma de lidar com os elementos base de um negócio – gestão dos custos, investir de forma inteligente e criar um negócio continuamente rentável -, à medida que ganha maturidade.