Em Junho de 2017, Donald Trump anunciava a saída dos Estados Unidos do acordo de Paris. Segundo o presidente dos Estados Unidos, os compromissos da COP 21 “não respeitavam os interesses dos Americanos” e que tinha sido “eleito para representar os interesses dos habitantes de Pittsburgh, não de Paris”. Nessa altura, vários responsáveis políticos e económicos, inclusive o Presidente da Câmara de Pittsburgh, manifestaram-se desiludidos com a sua decisão. Uma personalidade, em particular, decide abandonar o conselho económico do presidente americano: Elon Musk, porque “as alterações climáticas são muito reais”. Na verdade, aquele que tinha consagrado os seus últimos 10 anos a desenvolver alternativas de transportes sustentáveis juntando o melhor das indústrias da energia, dos automóveis e do software tinha uma visão diferente.

O automóvel elétrico é uma velha ideia, e já tinha sido concretizada. Foi na viragem dos anos 1900 que Nikola Tesla inventou o motor elétrico. No início do século, 40% dos veículos funcionavam a vapor, 38% eram elétricos e apenas 22% tinham motor a combustível. Mas desde 1908, as performances do motor a combustível, as escolhas políticas do desenvolvimento dos transportes individuais, os ganhos de produtividade tornados possíveis pela revolução Taylorista adotada pela Ford (divisão de produção em pequenas tarefas) e os preços acessíveis do petróleo permitiram que o motor a combustível vingasse no mercado. Em 1914, 99% dos automóveis em circulação eram a combustível.

Um século mais tarde, a urgência ambiental volta a colocar as cartas em cima da mesa para uma redistribuição de jogo e é na Silicon Valley, o Olímpo contemporâneo, onde as startups sonham mudar o mundo e resolver todos os problemas, que encontramos Elon Musk, um empreendedor arquétipo de Silicon Valley, que parece talhado por um blockbuster dos estúdios da Marvel. Algumas das suas empresas – PayPal, SpaceX, Hyperloop e Tesla – ambicionam repensar indústrias estruturais: a banca, o espaço, os transportes e a energia. E está a um passo de conseguir! Eis como.

Veja aqui o estudo integral TESLA: UPLOADING THE FUTURE

Para a FABERNOVEL, o sucesso da Tesla assenta na capacidade de evoluir no seio de 3 mundos diferentes, mas complementares: o mundo das ideias, o mundo físico e o mundo digital.

  1. Mestre do mundo das ideias, a Tesla desenvolveu uma visão – a de um mundo que se livrou do flagelo da poluição ambiental – sustentada por uma missão ambiciosa: acelerar na transição do mundo para as energias renováveis.
  2. Player no mundo físico, a Tesla impõe-se como uma empresa industrial do século XXI encabeçando um sistema global. Tornando-se um ator-chave dos sectores dos automóveis e da energia, a Tesla não seguiu os princípios ou os códigos das indústrias reputadas que são agora abaladas pelo que ainda não existia.
  3. Real pure-player, a Tesla tornou-se em poucos anos um gigante tecnológico, desenvolvendo sistemas de inteligência artificial capazes de tornar os automóveis autónomos, e tirando partido da conectividade para criar redes de distribuição de transportes e de energia, provavelmente as infraestruturas do nosso futuro. A Tesla é, antes de mais, um orquestrador de rede, à boa maneira dos pioneiros deste género: os GAFA.

Mas como é que este jovem player conseguiu conciliar estes três mundos e impor-se em menos de 15 anos em mercados tão fundamentais como o mercado automóvel e a energia? 6 teoremas, formulados por alguns dos grandes empreendedores da era industrial e digital, dão-nos a chave para analisar e interpretar esta epopeia tecnológica.

Teorema # 1: Uma visão ambiciosa é o melhor motor de crescimento

Se os concorrentes tradicionais do setor automóvel limitam a sua reflexão e a sua estratégia aos seus produtos, ou até aos seus consumidores, a Tesla ousa, pelo contrário, imaginar e afirmar uma visão muito mais vasta, na qual o seu produto – o automóvel – é apenas um componente. A Tesla é antes de mais uma visão, a de um futuro verde, feito de veículos elétricos autónomos e partilhados, onde cada um poderá captar a energia do sol para as suas necessidades energéticas, libertando assim, as sociedades modernas da sua dependência de energias fósseis. Reivindicadora, convicta, a empresa não encarna apenas uma missão comercial, mas uma verdadeira filosofia. Apresentando uma perspetiva de um mundo melhor, a Tesla desafia, envolve e arrasta todos os stakeholders: investidores, clientes, colaboradores, medias e “believers”. Esta visão ambiciosa é o motor da aventura da Tesla. É o catalisador do seu crescimento e a sua bússola num mundo em perpétua mudança.

Teorema # 2: Desafiar o status quo

Poucos sabem que o aquecimento climático poderia ter sido evitado, ou minimizado, se o motor de ignição desenvolvido por Nikola Tesla no início do século XX tivesse triunfado face ao motor de combustão da Benz. Um empreendedor engenhoso, Henry Ford, definiu assim outra trajetória para o mundo, criando o primeiro automóvel produzido em massa: o Ford T. Se Henry Ford e a sua cadeia de produção mataram o automóvel elétrico, a Tesla ressuscitou-a.

Mecânica, tecnologia, infraestrutura, consumidores, … tudo estava por fazer. Insuperáveis, estes desafios foram superados, um a um. Decompondo o problema em pequenos desafios, Elon Musk e a sua equipa ultrapassaram progressivamente os seus limites. Como? Aplicando as metodologias das startups e as oportunidades de mercado: enquanto as baterias dos automóveis tinham fama de serem caras, a Tesla utilizava as mesmas baterias que as dos computadores para inventar as baterias a baixo custo. Um automóvel elétrico rápido e de elevada performance, melhor que os automóveis desportivos a combustível? Era praticamente impossível até ao Tesla Roadster. O status quo foi desafiado.

Teorema # 3: A integração é a chave da perfeição

Um dos principais elementos da visão da Tesla é a criação de um veículo elétrico acessível a um mercado de massas. Para atingir um nível de qualidade e um custo de investimento baixo a Tesla integra e reinventa toda a cadeia de valor, em oposição completa à dinâmica dos últimos 50 anos que consagrou a externalização como uma estratégia vencedora: a Tesla construiu a maior fábrica de baterias do mundo e está a redesenhar a cadeia de produção recorrendo ao poder do software e da automatização.

Atraindo os seus fornecedores e integrando-os, a Tesla está a otimizar consideravelmente as suas competências para dominar verdadeiramente toda a cadeia de produção dos seus produtos. À boa maneira da Ford com a sua mítica fábrica River Rouge, a Tesla aposta, não na assemblagem de objetos estandardizados, mas na construção de algo fundamentalmente novo.

Teorema # 4: Não há mercado, apenas clientes

A Tesla abala o mercado do retalho automóvel com novos códigos de atuação: um modelo de venda direta sem intermediários, tal como um serviço de manutenção e de seguro incluído. A Tesla desenvolve igualmente as suas próprias infraestruturas para responder a um dos maiores pontos de atrito: a falta de carregadores que permitam aos seus clientes percorrer longas distâncias. A melhor solução? Desenvolver os seus próprios carregadores, os Superchargers.

Para além dos seus veículos, a Tesla propõe aos seus clientes produtos destinados à conversão e ao armazenamento de energia solar, permitindo assim reduzir a dependência da rede energética tradicional e colocando a Tesla numa posição quase de serviço público. A Tesla construiu um verdadeiro sistema industrial que quebrou as barreiras entre mercados, para garantir a experiência dos seus utilizadores e a integridade da sua visão.

Teorema # 5: O software como ponto central

O software tornou-se uma componente fundamental no nosso mundo e a Tesla integrou-o desde o momento zero nos seus produtos.

Os seus automóveis são construídos em torno de um único “coração”, o OS (sistema operativo), tornando assim possíveis, múltiplas inovações, ainda prospetivas para muitos industriais. Primeiro, enquanto um automóvel clássico se degrada após a saída da oficina, os Tesla podem ser atualizados, tal como os smartphones, permitindo a melhoria contínua das suas funcionalidades e da sua performance. Depois, a utilização dos produtos Tesla (automóveis ou energéticos) pode ser acompanhada à distância, permitindo efetuar operações de manutenção preditivas para antecipar uma avaria em vez de a reparar à posteriori. Finalmente, e esta é talvez a inovação mais estruturante, os veículos produzidos pela Tesla estão prestes a ser autónomos, prometendo assim, redefinir as indústrias como a logística, o transporte de pessoas, o retalho ou até mesmo os media (estimamos que os automóveis autónomos libertarão a atenção prestada pelos condutores em 12,2 dias por ano).

Teorema # 6 : As redes são os novos ativos

Como já tínhamos explicado no estudo GAFAnomics®, temporada 2, os pure players digitais são redes, estruturas com ultra-performance que redefinem os mecanismos de criação de valor, enfraquecendo muitos players tradicionais. A Tesla está também a criar uma rede. Uma rede de transportes que permitirá, à boa maneira da UBER, o acesso aos veículos autónomos disponibilizados por proprietários por parte de terceiros, mudando o modelo económico da Tesla da venda para a relação. Uma rede energética e uma “smart grid” que permitirá a gestão em tempo real da produção, do consumo de energia e das partilhas P2P (peer-to-peer). E este é o verdadeiro projeto da Tesla: a construção de uma rede planetária de transportes e de energia que permitem uma transição radical para as energias renováveis.

Ninguém sabe se o futuro da indústria será dominado pela Tesla, mas a sua visão e a sua execução já impulsionaram radicalmente a mudança em vários mercados e definiram um standard para os próximos anos, levando, entre outros, os fabricantes de automóveis a eletrificar as suas frotas, a desenvolver automóveis autónomos, e a investir noutras indústrias adjacentes.


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