A próxima evolução da internet. A transição da internet para ambientes tridimensionais. Um mundo virtual que tenta replicar a realidade. Muitas são as formas utilizadas para descrever o tão falado metaverso que, na minha opinião, tem o potencial de impactar várias indústrias, a começar pela moda.

A ideia de comprar ou experimentar roupa que só existe no mundo virtual pode parecer estranha, mas não tanto se pensarmos no gaming – se tiver filhos, é possível que lhe peçam um hoody ou uma mochila para um videojogo no próximo Natal.

Não é de surpreender: personalizar personagens e comprar visuais (as chamadas skins) é uma forma de expressão em videojogos há muito tempo e tem sido uma forma para os gamers criarem a sua identidade e expressarem-se dentro das comunidades.

Os videojogos estão a tornar-se, por isso, uma montra interessante para a moda no metaverso, dando-lhe um lado mais fun, quer seja através da criação de visuais para personagens, quer seja através da criação de NFT.

Plataformas de videojogos como o Fortnite da Epic Games, que tem mais de 400 milhões de utilizadores em todo o mundo, são um habitat natural para a Geração Z, que para além de uma linguagem e códigos próprios procura também afirmar-se através de um estilo próprio.

Uma oportunidade para as marcas

O gaming está a evoluir para uma indústria com cada vez maior relevância: basta olhar para o valor dos prémios atribuídos em torneios de e-sports. Um torneio do videojogo Dota 2, realizado em 2021, atribuiu um total de 40 milhões de euros em prémios, quase o mesmo que o torneio de ténis Wimbledon.

Não menos importante é o facto de o mundo dos videojogos não ser só para jogar, mas ser também uma forma de desfrutar de experiências sociais com os amigos, que no metaverso vão ganhar uma nova dimensão.

“Augmented reality will change the world more than a lot of other technologies. Traveling around to meet people will be much less important when you can stand in a room and chat with a virtual representation of a person that’s so close to reality – it’ll be a whole new level. – Tim Sweeney, CEO da Epic Games.

As marcas de moda perceberam a importância do gaming para chegar aos consumidores de amanhã e estão a olhar para o metaverso como uma oportunidade para proporcionar experiências, aumentar a afinidade com as marcas e como uma nova forma de monetizar as suas criações. É expectável que as margens de lucro venham a ser superiores às do retalho e e-commerce tradicionais, uma vez que os custos de produção e distribuição são muito baixos e as peças são infinitamente replicáveis e vendidas em NFT.

O segmento de luxo é um bom exemplo. A Balenciaga estreou-se, em setembro de 2021, com o lançamento de vestuário e acessórios virtuais no Fortnite que os jogadores podiam comprar para as personagens.

Não foi preciso esperar muito até à marca de luxo italiana Moncler dar o mesmo passo. Qual o objetivo? O mesmo que no mundo real: transmitir a atitude, a personalidade e a estética da marca, apresentando os produtos à Geração Z como uma experiência digital.

Os universos virtuais, como os do gaming, podem também permitir à indústria da moda testar os seus produtos antes sequer de entrarem em produção. O lançamento de coleções limitadas nos videojogos pode servir de laboratório, ajudando a minimizar a sobreprodução e o consequente impacto ambiental de todo o ciclo de vida de um artigo de moda. Não nos podemos esquecer que a moda é uma das indústrias mais poluentes do mundo.

Digital fashion é a nova fast fashion?

O metaverso oferece uma experiência de compra num ambiente imersivo e divertido onde se podem experimentar infinitos outfits e mudar de estilo a qualquer momento. Trata-se de uma verdadeira forma de expressão, em que podemos ser o que quisermos e quem quisermos.

Tudo isto pode ser transformador para a moda. Por exemplo, é uma oportunidade para o surgimento de novas marcas que nunca existiram no mundo real, sem limitações em termos de materiais, formas e tamanhos.

Não é também de admirar se passarmos a ver desfiles no mundo real com criações que foram lançadas no mundo digital ou até mesmo um desfile com personagens do digital.

E se fosse o Sharky B? O Sharky B é uma personagem de edição limitada lançada pela Burberry como um NFT, no videojogo Blankos Block Party da Mythical Games. É caso para dizer que os NFT entram literalmente em jogo.

Também a criação de personagens ou de acessórios em formato NFT pode ser uma nova fonte de receitas para as marcas. Com potencial de valorização, quando um NFT é vendido num marketplace, a marca que criou esse NFT recebe uma percentagem vitalícia sobre todas as transações.

Após o lançamento, o Sharky B da Burberry foi vendido em 30 segundos por 300 dólares e, minutos depois, foi transacionado por mais de 1500 dólares no mercado secundário.

Em suma, acredito que o metaverso e a web3 trazem grandes oportunidades para a moda (e para as restantes indústrias), mas também novos desafios a nível social que é importante considerar. Como escreveu Matthew Ball para a Time: “o metaverso vai redefinir as nossas vidas, certifiquemo-nos de que é para o melhor.”