Há 33 anos, Tim Berners-Lee inventava a World Wide Web porque estava frustrado com o facto de documentos estarem em disquetes e de não haver uma forma de partilhar e aceder online a toda a informação. 

Numa entrevista de 20 minutos com Emma Barnett da Bloomberg QuickTake, o criador da World Wide Web refletiu sobre o mundo digital e falou sobre o seu projeto Solid, para uma internet descentralizada. O objetivo é que os utilizadores possam armazenar os seus dados e passem eles próprios a controlar o acesso aos seus dados pessoais. 

Para ajudar a ter uma perceção de como aqui chegámos, convido-vos a regressar à Web 1.0. 
Ainda se lembra? Entrávamos no Yahoo e havia anúncios ao longo da página, cores e imagens a piscar por todo o lado, todos tentavam captar a nossa atenção. Nessa altura, estávamos a falar de consumo de informação, mas o acesso não era fácil porque os computadores ainda não estavam nas nossas casas e a instalação do modem para ligar à linha telefónica não era “plug and play”. Foi nessa altura que o meu tio (obrigado Phillippe), que trabalhava num grande grupo, me explicou a Internet e passou a enviar-me e-mails com gifs animados todos os dias. Naquela altura, para construir um site era preciso saber programar, a formação era escassa e os livros técnicos também não abundavam. Mas, estava claro que a web tecnicamente permitia a liberdade total, porque qualquer pessoa podia expressar-se.

Hoje, estamos na Web 2.0: é a Internet das redes sociais e dos conteúdos. Somos todos produtores de conteúdo, porque é muito fácil publicar conteúdo graças ao Facebook, TikTok, Instagram, Twitter, LinkedIn, etc. Agora sim a visão de liberdade passou a ser uma realidade, porque não é preciso saber programar, nem fazer um curso para publicar conteúdos online. No entanto, nada lhe pertence, porque tudo está centralizado nestas plataformas. Apercebi-me disso no dia em que apagaram a minha conta no Facebook pela primeira vez. Ou quando eu queria apagar a minha conta Instagram. Sim, como as suas contas nas redes sociais não lhe pertencem, isso significa que todos os poderes económicos da atual web estão centralizados, que os seus dados são processados e geridos com o seu consentimento sem que saiba o que se está a passar.
Alguma vez falou com um amigo da última viagem que fez e algumas horas mais tarde TODOS os anúncios na Internet falavam de viagens baratas? Bem, é isso mesmo. Web 2. Ao querer ser livre, já nada nos pertence.

A Web 2 é o aumento da interação dos utilizadores da Internet através de redes sociais e do comércio eletrónico, estão em todo o lado através da integração ou plugin para quase todos os sítios. Mas é também a perda de controlo pelos utilizadores da Internet sobre os seus dados e o que produzem.

A Web 3 é o futuro…

A Web 3 é a terceira geração da Internet, por assim dizer. Ainda jovem, é uma nova era da Internet, onde a propriedade é dos criadores e utilizadores. É um afastamento do modelo centralizado. Este novo modelo introduz duas noções principais: a propriedade e a monetização das nossas atividades. Da mesma forma que a criptografia ataca o sistema financeiro centralizado, a Web 3 é apenas uma forma de utilizar a criptografia e a blockchain para atacar o modelo centralizado da Internet.

É reunir o melhor dos modelos anteriores: um ambiente onde todos se podem expressar, mas asseguramos que todos são donos daquilo que criam ou em que participam. Os criadores de conteúdos já não terão de ser locatários de um espaço virtual sobre uma plataforma que não possuem. Também não terão de subscrever uma das maiores redes para comunicar com os seus amigos, pois vão comunicar diretamente entre si.

E depois?
Lembra-se do Vuze? Do Piratebay? Ou do E-mule? Era uma espécie de grande plataforma de partilha de ficheiros peer-to-peer. Desapareceram por causa da pirataria que abundava nestas plataformas. 
A descentralização é algo que muitos desejam, mas é preciso lembrar que a grande maioria dos dados está alojada em servidores centrais como AWS (Amazon Web Services), Google ou Microsoft. Estão a surgir algumas alternativas interessantes, como a Skynet, que permite o armazenamento descentralizado e simbólico, mas as suas soluções estão ainda em desenvolvimento.
Felizmente, a Web 3 está a atrair a atenção de fundos de investimento como o Yuga Labs, criador da coleção de NTF Bored Ape, que angariou 4 mil milhões de dólares, em julho passado, para desenvolver o seu Metaverso. Também muitos dos players atuais da Web 2.0 estão a investir na Web 3 para garantirem que não perdem o seu lugar.

A Web 3 promete ser transformadora e abrir espaço a muitas oportunidades.