
Piero Fioretti (Versy): “É importante entrar no metaverso o mais rápido possível”
Piero Fioretti é CEO e fundador da Versy Technologies. Esta startup desenvolveu um “WordPress” do metaverso, que permite a qualquer empresa integrar com facilidade uma experiência virtual no seu próprio website.
Nesta entrevista, Piero Fioretti explica porque é que considera que todas as empresas vão precisar do metaverso para comunicar, de uma forma mais emocional, encurtando o tempo desde a descoberta de uma marca até à realização de uma compra.
A Versy foi fundada este ano, em 2022, ainda está a dar os primeiros passos. Qual é a história por detrás da criação da empresa?
A Versy surgiu porque sempre fui um apaixonado pela comunicação e porque sabia que o nosso cérebro nos permite imaginar coisas que ainda não são reais e que com isso a nossa forma de agir muda. A questão era: “o que é que pode acontecer se pudermos viver o nosso sonho antes que possa acontecer?”. Isto levou-me a pensar como é que podemos fazer algo que permita a qualquer pessoa, começando pelas empresas, criar experiências virtuais da forma mais fácil e personalizada possível. Foi assim que surgiu a ideia de criar a Versy, no início de 2022.
Define a Versy como o “WordPress” para o metaverso. Como é que esta solução funciona?
Sim, definimos como o “WordPress” para o metaverso. É uma plataforma, uma infraestrutura, que permite às empresas criar experiências virtuais, sejam elas realidade aumentada, realidade virtual, ou também um mundo virtual acessível através do smartphone e do computador.
Estas experiências constroem-se como se estivéssemos a brincar com peças Lego. De um lado podemos pegar em blocos, que podem ser ativos 3D ou 2D e, do outro, temos blocos de interação que podem ser, por exemplo, “quero tornar este produto configurável, para que as pessoas possam mudar a cor, a forma ou o que quer que seja”. Basta apenas arrastar e largar o bloco. Deste modo, é possível construir experiências virtuais sempre diferentes e únicas.
Quão rápido uma marca pode integrar estas experiências nos seus websites?
Pode demorar desde 2 minutos a muito mais tempo, dependendo da complexidade. Para integrar a experiência no website é só fazer copy paste. Podem apenas pegar em três linhas de código, que lhes enviamos, e colocar no website onde querem exibir o metaverso. E está feito, está online e as pessoas podem aceder.
“Quer seja uma experiência de realidade aumentada ou uma experiência de realidade virtual, é possível fazer compras diretamente a partir da experiência.”
Vai ser possível comprar diretamente produtos através das experiências virtuais da Versy?
Sem dúvida. Neste momento, estamos a integrar o processo de compra dentro do mundo virtual para que não se tenha de sair para outro website ou aplicação e se possa viver toda a experiência dentro do metaverso. Quer seja uma experiência de realidade aumentada ou uma experiência de realidade virtual, é possível fazer compras diretamente a partir da experiência.
“Para compreender a utilidade do metaverso temos de abandonar a ideia de que o metaverso são só mundos virtuais.”
Pode dar-nos alguns exemplos de experiências interativas que podem ser criadas?
Uma loja pode criar uma experiência de realidade aumentada para produtos que estão expostos, de modo a que os utilizadores possam apontar o smartphone para onde está o produto e o possam configurar em tempo real. Ou seja, podem dizer “eu quero este produto assim” e a loja pode produzi-lo dessa forma. Assim criam algo que as pessoas querem comprar e evitam criar algo que podem não vender. A nível pessoal, trata-se de um produto que é mais personalizado.
Outro exemplo é a criação de interfaces virtuais para os bancos, para que seja possível aceder ao banco através de uma experiência virtual. Podemos também criar centros comerciais num mundo virtual e exposições, como a da Web Summit, num mundo virtual, para que se possa aceder a partir de qualquer lugar. As possibilidades são infinitas.
Para compreender a utilidade do metaverso temos de abandonar a ideia de que o metaverso são só mundos virtuais. O metaverso é, na realidade, uma colecção de experiências virtuais, não importa se são um mundo virtual, realidade aumentada, realidade virtual ou filtros de Instagram. Para nós, são considerados um metaverso porque adiciona uma camada à nossa realidade e dá-nos uma forma melhor de comunicar com pessoas e empresas.
Outra possibilidade para as empresas é alugar o seu espaço no metaverso. Como é que as marcas podem alugar o seu espaço?
As marcas geralmente tentam criar algo que pode ser realmente impactante e querem que os seus parceiros ou os clientes possam prosperar dentro desses mundos virtuais que criam. No caso dos mundos virtuais, temos espaços que podem ser divididos em “pedaços” mais pequenos e alugados. Se eu tiver um parceiro ou alguém a quem eu queira alugar este espaço, basta utilizar a plataforma da Versy. Isto ainda não está disponível, mas quando for lançado, vai ser possível alugar o espaço a alguém diretamente na plataforma e permitir criar o que se quiser nesse espaço.
“É importante entrar no metaverso o mais rápido possível, quanto mais cedo, maior será a vantagem competitiva. Todas as empresas devem utilizar o metaverso para comunicar.”
Na sua opinião, quão importante é para uma empresa entrar no metaverso?
É essencial. O metaverso é como uma nova língua, porque permite-nos comunicar através de experiências virtuais, que são muito mais emocionais e permitem compreender muito melhor o que quero comunicar.
Neste momento, usamos luzes e imagens para a nossa comunicação. Agora, vamos poder criar algo em 3D, em tempo real, à vossa frente para, por exemplo, aprendermos alguma coisa. Neste caso, falamos de educação, mas pode aplicar-se a tudo: ao retalho, aos bancos, aos hotéis. Todas essas experiências são essenciais porque podem reduzir o tempo da customer journey, o momento desde que alguém descobre uma marca até realizar uma compra.
É importante entrar no metaverso, na revolução virtual, o mais rápido possível, porque quanto mais cedo se começar maior será a vantagem competitiva. Mais cedo ou mais tarde, todas as empresas devem utilizar o metaverso para comunicar. Não vai substituir o mundo físico da comunicação, nem o digital, mas vai adaptar-se. A empresa que decidir utilizar o metaverso vai acabar por gerar muito mais leads, muitas mais conversões em menos tempo. Portanto, quando mais cedo, mais inovador e mais conversões terá.
A Versy opera como uma empresa de SaaS (software-as-a-service). Pode partilhar mais detalhes sobre o vosso modelo de negócio?
Queremos que as empresas tenham acesso à Versy da forma mais fácil possível. Queremos que seja simples e, por isso, pensámos que ir pelo caminho das criptomoedas, como todos os outros estão a fazer, não seria user friendly. Por isso, decidimos optar por um modelo que pudesse escalar com um negócio e que pudesse escalar connosco e, assim, optámos pelo SaaS.
Dependendo do tipo de utilização do metaverso que as empresas querem fazer, podem começar pequeno com um plano de store front que utilizamos com o Shopify, que permite começar, em minutos, e ter o metaverso rapidamente pronto para colocar no website. Quanto mais analítica e dados se desejar sobre o metaverso, quantas mais integrações com sistemas externos e mais ferramentas de marketing, é necessário escolher outros planos [da Very]. Em termos dos planos que oferecemos, o que muda no core são analytics, APIs, ferramentas de marketing e a possibilidade de utilização de mais blocos para criar as experiências.
Quem é que são os vossos principais parceiros?
Em termos de principais parceiros, trabalhamos com o Shopify. Estamos também no programa para startups Inception da NVIDIA e temos mais de 40 parceiros comerciais e técnicos, desde o Ready Player Me à Unity. Trabalhamos também com agências web, agências de marketing e temos parceiros de desenvolvimento de software e de desenvolvimento virtual.
Que mercados têm como alvo?
Inicialmente, estávamos no Dubai, nos Emirados, e depois mudámo-nos para Itália, porque tínhamos lá uma grande rede de contactos. Agora estamos a concentrar-nos, principalmente, nesses dois mercados, mas temos muitos pedidos da Europa e também dos EUA. Já temos alguns parceiros que estão a vender os nossos sistemas aos seus clientes.
O lançamento está previsto para 2023…
A primeira versão da plataforma já está disponível, posso partilhar um link com quem quiser experimentar. É a versão lite que está a funcionar e a gerar receitas. No primeiro ou no segundo trimestre de 2023, vamos lançar a próxima versão, que dará mais liberdade às empresas em termos de criação de experiências em tempo real.
Em termos de investimento, quanto é que já captaram no total?
Captámos, em maio, 100 mil dólares, que nos permitiram crescer nos últimos meses. Agora pretendemos captar 1,5 milhões de dólares e temos uma valorização de 8.5 milhões de dólares.
O que é que vem a seguir?
Vamos trabalhar bastante na integração de diferentes serviços de parceiros presentes na Web Summit. Por exemplo, estamos a integrar soluções de conversação, suportadas por inteligência artificial, como a Twerlo e estamos a integrar soluções de blockchain e de data analytics, como a Zokyo. Queremos dar às empresas mais liberdade, não só para construírem uma experiência virtual, como também para beneficiar de muitos sistemas diferentes que lhes permitam obter um retorno do investimento no metaverso. Isto é o mais importante para nós, dar um retorno do investimento no metaverso.