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Viver até aos 100 ou viver a 100%?

A longevidade pode vir a ser um dos maiores desafios para a sociedade moderna. Já não é apenas uma área de estudo, pode ser um problema ou uma oportunidade para a sociedade, as empresas, os governos e para a própria economia. Em Portugal, a esperança média de vida passou dos 51 anos (1940) para os 82 (2022). 

Por outro lado, dada a baixa natalidade, Portugal é o quinto país mais envelhecido do mundo, atrás apenas do Japão, Itália, Finlândia e Grécia.

É sobre algumas destas questões que Andrew J. Scott, o especialista em longevidade e autor dos livros The 100 year life e The new long life, falou em entrevista à Fundação Manuel dos Santos, trazendo uma nova perspectiva.

O economista e professor na London Business School defende que temos que começar a pensar não só nos últimos anos de vida, mas principalmente naquilo que fazemos nas diversas fases por que passamos e o que mudar nessas idades, focar-mo-nos mais na qualidade do que na quantidade de anos que vivemos.

“Mudar a forma como envelhecemos é mudar a forma como vivemos quando somos jovens.”

Qual o impacto para a sociedade, as empresas e a economia?
O grande tema, que já gerou muita controvérsia, é antes de mais a idade da reforma. Se vamos viver até muito mais tarde, temos de preparar os anos extra de vida, não se trata apenas apenas de esticar a idade da reforma. Segundo Andrew J. Scott, a ideia que criamos do nosso percurso de vida, divida em 3 estágios (juventude/educação, adulto/trabalho, velhice/reforma), deve passar a ser vista como um período de multi-estágios, que permita uma maior flexibilidade e alternância entre trabalho, estudo e lazer.

Todos envelhecemos de forma diferente, mas temos a tendência a pensar que todos os velhos são iguais. Hoje, os mais velhos têm mais educação, têm mais capacidade financeira e podem gozar de uma saúde que lhes permite fazer mais atividades.

Pensar em produtos para maiores de 65, exclusivamente relacionados com problemas de saúde ou fragilidades pode deixar de fazer sentido. O consumidor médio é cada vez mais velho e mesmo em idade avançada tem saúde e tempo que lhe permitirá fazer mais atividades. Estima-se que a chamada Silver Economy, ou seja, produtos e serviços de saúde, bem-estar e lazer direcionados aos seniores, que hoje representa 9 mil milhões de dólares, chegue em 2050 a 30 mil milhões de dólares.

Os paradigmas de consumo e de criação de produtos também são uma grande transformação.

Imagine que pensava que a única coisa que interessa aos adolescentes seria creme para o acne. É assim que as pessoas tratam os mercados para pessoas mais idosas. Tudo tem que ver com falhas médicas ou físicas. E (esta geração) tem muitas necessidades e muitos interesses que não se limitam a receber cuidados de saúde.

Em Portugal, vamos precisar de produtos de maior valor acrescentado para produzir mais riqueza com uma população ativa menor, sejam produtos tecnológicos, maior automatização ou aproveitar os novos mercados da Silver Economy e criar soluções que respondam as estas necessidades.

Num documentário, também da Fundação Francisco Manuel dos Santos para a RTP, são apontados os desafios que o nosso país enfrenta e alguns exemplos de empresas que estão a inovar em Portugal, criando produtos tecnológicos, como uma plataforma de imunoterapias, um simulador digital de um paciente, produtos de auxílio motor, entre outras.

Podemos não saber ao certo o que nos reserva o futuro, mas seja do ponto de vista pessoal ou profissional é importante planear os nossos próximos anos e reinventarmos as nossas empresas.