
Samsung entra no mercado dos carros conectados
À medida que o negócio dos smartphones desacelera, a Samsung está à procura de novas fontes de receita, preparando a sua entrada no mercado promissor da tecnologia automóvel (deverá crescer mais de 100 mil milhões de dólares em 2025, segundo a Samsung). A tecnológica sul-coreana acaba de comprar, por 8 mil milhões de dólares, a Harman, empresa conhecida pelo fabrico de sistemas de som de alta-fidelidade para automóveis e líder no segmento de soluções para automóveis conectados.
A Harman disponibiliza um conjunto de serviços, possibilitados pela ligação dos carros à internet: navegação (sistema de mapeamento 3D), entretenimento multimédia, sistemas de segurança (como sistemas de leitura das pupilas para verificar o nível de fadiga do condutor ou sistemas de feedback através de touch, como o Shape Shifting Console) e ferramentas de analítica (dados relativos a tráfego em tempo real), estando também a trabalhar no desenvolvimento de uma plataforma para proceder a updates de software através de wireless – um serviço em que a Tesla de Elon Musk é líder.
O negócio de carros conectados da Harman é responsável por 45% da sua receita e 49% dos proveitos operacionais.
Com um mercado já fidelizado (equipamentos da Harman estão em mais de 30 milhões de automóveis) e uma relação privilegiada com grandes fabricantes de automóveis (BMW AG, Volkswagen AG, General Motors Co., etc), esta empresa pode dar à Samsung um grande impulso na conquista do mercado de infotainment abordo, concorrendo com os sistemas Android Auto, da Google, e CarPlay, da Apple, e tornando a tecnológica sul-coreana numa fornecedora chave da indústria automóvel.
A Samsung já havia demonstrado interesse na aquisição, por mais de 3 mil milhões de dólares, da divisão de componentes automóveis da Magneti Marelli (grupo Fiat Chrysler Automobiles), dedicada a áreas como iluminação, entretenimento abordo e telemática, mas a compra acabou por não se concretizar.
Consumo de conteúdos abordo e transformação nas portagens
Juntando esta compra à recente aquisição da Viv Labs – acrescentando o assistente virtual Viv ao seu portfólio – é expectável que a tecnológica venha a integrar o Viv nos sistemas de audio da Harman fornecendo uma plataforma de voz que pode ser utilizada no carro para fins de infotainment, serviços baseados na localização, sistemas de segurança, ferramentas de analítica, etc.
Outros dos pontos chave na estratégia da Samsung é também a tendência crescente para consumo de conteúdos abordo, à medida que os veículos se vão tornando cada vez mais autónomos. Na conferência CES, a Harman demonstrou como a sua tecnologia converte o interior de automóvel para o modo autónomo.
A automação e conectividade dos carros terá impactos na forma como as portagens são concebidas e a sua operação no futuro. Uma vez que os carros possuem sistemas de GPS, é provável que os pórticos das portagens se tornem virtuais, detetando os veículos à sua passagem. A enorme quantidade de dados gerados pelos veículos conectados, e acessíveis em tempo real, podem também vir a desencadear um sistema de preços baseado no tráfego, por exemplo.
Casas conectadas?
Esta poderá não ser só uma entrada no mercado dos carros conectados, trata-se, potencialmente, também de uma entrada no mercado das casas conectadas. A Harman inclui no seu portfólio a JBL, Harman Kardon, Mark Levinson, AKG, Lexicon, Infinity e Revel, que possuem produtos como auscultadores, colunas Bluetooth e sistemas de home hi-fi que podem vir a integrar a assistente virtual Viv e permitir controlar os dispositivos da casa e proceder a um vasto leque de pedidos, à semelhança do Echo, da Amazon.
A Harman apresentou este ano uma coluna Bluetooth portátil personalizada para ir ao encontro do estilo de vida conectado valorizado pelos millennials, que pode ser utilizada dentro do automóvel, mas também transportada para qualquer outro local.
Além disso, todas estas marcas representam um potencial de aumento de competitividade para a Samsung a vários níveis: mobile, display, realidade virtual, wearables, etc, no que diz respeito à melhoria da experiência dos utilizadores no âmbito do audio e visual.
O facto de a Samsung estar a fechar este negócio, em simultâneo com a “crise” que está a atravessar com os seus smartphones e outros equipamentos mostra que não está a olhar para as turbulências do curto-prazo, mas sim a construir um futuro a médio longo-prazo. E esta aquisição da Harman tem tudo para ser música para os ouvidos dos shareholders.