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Facebook: resultados do 1º trimestre. Um modelo que precisa de ser reinventado

Jeremy Taïeb, Value Analyst na FABERNOVEL, e Pierre Letoublon, diretor do coworking Parisoma by FABERNOVEL.

 

O essencial

Um trimestre sólido para o Facebook apesar de uma multa sem precedentes imposta pelo regulador norte-americano FTC

Apesar da desaceleração no crescimento da base de utilizadores do Facebook (apenas +8%) e da crescente concorrência da Google, Amazon, Twitter e Snap no setor de publicidade, a empresa teria conseguido superar as expectativas de todos os analistas se não fosse a multa de milhares de milhões de dólares, imposta por falhas de segurança. Estes resultados bastante sólidos confirmam a estratégica central do Facebook, que apresenta uma valorização moderada para os seus resultados, em comparação com os seus pares.

A saturação do seu espaço publicitário e os escândalos em relação aos dados pessoais tiveram impacto na margem do Facebook neste trimestre, que está em declínio (22% incluindo reservas para a potencial multa e 42% sem a multa, em comparação com 46% no ano anterior). Perante esta situação, como é que esta gigante da tecnologia se pode reinventar?

O Facebook terá de encontrar outras fontes de receita ou unificar as suas plataformas para se tornar uma super aplicação, como o WeChat fez na China. Com a extinção dos pagamentos entre utilizadores no Messenger na Europa, a 15 de junho de 2019, parece ser um mau começo. A empresa  enfrenta o desafio da diversificação de receitas, apoiando-se nas suas aplicações independentes (Messenger, WhatsApp, Instagram), enquanto a maior parte da rentabilização ainda depende do Newsfeed.

A análise

Um modelo publicitário que mostra sinais de falta de fôlego

No 1º trimeste, o preço médio por anúncio caiu 4% e o número de impressões de anúncios aumentou 32%” – David M. Wehner (CFO do Facebook)

O Facebook atingiu, mais uma vez, um novo recorde de utilizadores na sua plataforma com 2.374 milhões de utilizadores ativos por mês no Facebook, Whatsapp e Instagram.

Apesar deste recorde, o crescimento a nível mundial desacelerou para quase 8% (comparando com primeiro trimestre de 2018), sendo a menor taxa de crescimento anual do Facebook desde o IPO.

O problema está na principal fonte de receita do Facebook (mais de 98%): a publicidade. Após os bons resultados do Twitter e do Snap e a ascensão da Amazon, a quota de mercado do Facebook no setor de publicidade provavelmente vai ser afetada a longo prazo. David Wehner, CFO do Facebook, espera que o ritmo de crescimento da receita de publicidade diminua em 2019.

Além disso, com o seu espaço publicitário saturado, a única maneira de gerar receita sem mudar o modelo de negócio é captar mais utilizadores. No entanto, se esse crescimento do número de utilizadores desacelerar, como atualmente, o Facebook terá de encontrar outras fontes de receita. Esta diversificação pode ser feita rentabilizando, por exemplo, o Instagram, a sua aplicação com maior crescimento ( já o faz com as Stories, permitindo aos anunciantes oferecer os seus produtos nas feeds) ou o Whatsapp, que tem mais utilizadores do que o Messenger. Esta estratégia já está a dar frutos, com um crescimento de 28% na receita, apesar do crescimento de apenas 8% no número de utilizadores e de -4% no preço por anúncio.

No modelo de negócio atual, as alavancas de crescimento permanecem incertos. Tudo é feito para tornar a Newsfeed o mais atraente possível, para continuar a atrair anunciantes. Recentemente nomeada diretora da App do Facebook e, agora, a número 3 da empresa, Fiji Simo está a tentar fortalecer a liderança da rede social, multiplicando os conteúdos – incluindo de vídeo através do Facebook Watch – e de serviços, através do marketplace ou do dating.

O Facebook tranquilizou os accionistas sobre os dados públicos e privados.

Esta questão ainda não está resolvida, estimamos que o prejuízo associado seja entre 3 mil milhões e 5 mil milhões de dólares” – David M. Wehner (CFO do Facebook)

As recentes falhas de segurança no Facebook tiveram muito pouco impacto no valor das ações da empresa, que ainda consegue tranquilizar os investidores. Assim, apesar de vários escândalos este ano e, em particular, no início de abril, o valor da ação subiu mais de 40%, desde janeiro de 2019, atingindo 184 dólares no dia anterior à publicação dos resultados.

No entanto, as sucessivas falhas de segurança tiveram três efeitos: uma diminuição da confiança dos anunciantes, uma diminuição da reputação junto dos utilizadores e, em especial, uma potencial multa imposta pela FTC (Federal Trade Commission) com um impacto de até 3 mil milhões de dólares nas contas do primeiro trimestre. Esta multa da FTC estabelece um recorde para o Facebook, anteriormente detido pela Google que pagou 22 milhões de dólares em 2012 (por quebra de confidencialidade), mas está abaixo das previsões.

Assim, as falhas de segurança e, particularmente, a multa da FTC reduziram para metade o resultado operacional do Facebook, que apresenta ganhos por ação de 0,85 dólares, menos 48% do que os analistas previam sem a multa.

No entanto, não se espera que esta multa represente mais de 5% da receita do Facebook neste ano (e nem sequer representa 1% da capitalização bolsista do Facebook). Sem esta multa, o Facebook teria excedido as expectativas de todos os analistas.

Em fevereiro, Mark Zuckerberg anunciou que as despesas com segurança em 2019 seriam maiores do que as receitas do Facebook no momento do IPO, de 3,7 mil milhões de dólares, o que poderia ter um impacto no crescimento da empresa.

Esta iniciativa e o budget associado são acompanhados por um objetivo muito claro: justificar a mudança de direção do Facebook para uma operação que respeita os dados privados, a fim de evitar mais multas.

Outros escândalos mais sociais mancham a pintura, pois o Facebook, depois de anunciar que 99% do conteúdo relacionado com terrorismo seria filtrado antes de ser publicado, falhou no massacre de Christchurch, na Nova Zelândia,  que acabou por ser transmitido em direto.

O Facebook pode tornar-se o novo WeChat?

Não somos a plataforma líder em messaging nem nos Estados Unidos, nem na China, nem no Japão, que são as 3 maiores economias do mundo” – Mark Zuckerberg

 

Devido à fragmentação das aplicações do Facebook (Facebook, Instagram e Whatsapp), a empresa pode achar difícil tornar-se a próxima super-app.

Mas as recentes iniciativas de diversificação do Facebook, como o Facebook Workplace (concorrente do Slack e do Microsoft Teams em termos de ferramentas de trabalho colaborativas) ou o lançamento de serviços de compras online na plataforma do Facebook, nos Estados Unidos, parecem indicar uma vontade de unificação. Aos investidores, Mark Zuckerberg explicou, claramente, que a visão do Facebook é permitir que as empresas ofereçam uma experiência do utilizador simples, sem ter que sair da aplicação: descoberta, transação e atendimento ao cliente. Esta estratégia é uma reminiscência da Tencent e da sua principal plataforma, WeChat, que centraliza as diferentes necessidades de um utilizador no dia a dia (para mais detalhe consulte o nosso estudo WeChat : The shape of the connected China).

Ao tornar-se uma plataforma universal, o Facebook pode gerar muito mais receita a longo prazo por cada utilizador. Hoje, o valor da Tencent por utilizador é de 423 dólares, o dobro do valor de um utilizador do Facebook. O modelo super-app é muito mais atraente para os investidores que vêem um forte potencial para o futuro.

Se o Facebook tivesse a mesma valorização por utilizador da Tencent, seria, agora, a maior empresa do mundo em termos de capitalização bolsista.

Os especialistas

Jeremy Taïeb, Value Analyst, na FABERNOVEL Alpha

O Facebook atingiu agora uma dimensão crítica, e precisa de renovar-se para continuar a crescer e permanecer na corrida entre os GAFAM – Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft (é a empresa com a capitalização bolsista mais baixa neste grupo). O Facebook precisa repensar a sua estratégia de rentabilização e deve também limpar a imagem negativa em termos de segurança de dados, caso contrário as suas tentativas de diversificação podem falhar – como por exemplo o Facebook Workplace em relação ao Slack que, apesar da sua dimensão é concorrente dos GAFAM.

 

Pierre Letoublon, diretor do coworking Parisoma by FABERNOVEL.

O Facebook continua a sua jornada imparável, apesar dos escândalos sucessivos. No entanto, estes resultados são marcados pela ameaça de regulamentação: o Facebook está a tentar recuperar o atraso para proteger a sua plataforma, com custos elevados, antes que os reguladores obriguem a fazê-lo. Se os anúncios se multiplicarem, apenas fortalecem o modelo publicitário. A transformação para um modelo super-app ainda parece estar longe. Mark Zuckerberg está a tentar um terceiro caminho juntando redes sociais públicas e plataformas de comunicação privadas.


GAFAnomics® [ga-fɑː-nom-iks], substantivo: Novo modelo económico em rede, inspirado pelos GAFA – Google, Apple, Facebook e Amazon – que integra Unicórnios (startups com valorização acima de mil milhões de dólares), gigantes chineses de tecnologia e todas as empresas que mudam as nossas vidas através da tecnologia e inovação.

Outros acrónimos de empresas que seguem estratégias GAFAnomics®:
NATU – Netflix, AirBnB, Tesla e UBER
BATX – Baidu, Alibaba, Tencent e Xiaomi (os GAFA chineses).

Durma descansado, os GAFA estão a trabalhar… possivelmente para transformar (disromper) a sua indústria.

ESTUDOS GAFAnomics®:

WeChat: The shape of connected China
TESLA: Uploading the Future

GAFAnomics: Nova Economia, Novas Regras
GAFAnomics: 4 super poderes, na Network Economy
UBER: O vírus dos transportes
Amazon: O império escondido
Facebook: A startup perfeita
LinkedIn:  A rede séria

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