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AT&T compra Time Warner e agita Telecom, Media e Tecnológicas

Durante a Allen & Co. Sun Valley Conference deste ano, Maurice Levy (CEO da Publicis) e Tim Armstrong (CEO da AOL) foram peremptórios sobre o facto de que o conteúdo continuará a ser Rei na Era Digital – a chave para a construção das marcas – e que o seu consumo será, cada vez mais, on-demand.

O fantasma do insucesso daquele que foi o maior “casamento” entre Bricks e Clicks (indústria tradicional e indústria tecnológica), entre Time Warner e AOL, em 2000, por 162 mil milhões de dólares (que para além dos ativos de media, na altura incluía também a telecom Time Warner Cable), ainda é capaz de assombrar alguns, mas a verdade é que a “corrida” às empresas de media está de volta. A oferta de TV over-the-top de diferentes agregadores de conteúdos, como o Netflix ou Amazon Prime Video, constitui uma ameaça aos operadores de telecomunicações e estes sentem necessidade de procurar ativos e argumentos para concorrer com estes players.

A recente aquisição da Time Warner, por 85,4 mil milhões de dólares (parte em dinheiro, parte em ações) pela AT&T é um exemplo paradigmático. A Time Warner é uma empresa rica em conteúdos: inclui a HBO (Game of Thrones, West World, Girls); TNT (possui direitos de transmissão de jogos da NBA e sabemos que os conteúdos desportivos são dos mais valiosos no âmbito da TV em direto); CNN (uma referência no mundo do jornalismo e uma “força” online); ou ainda o Hulu (a Time Warner comprou 10% deste serviço de streaming rival do Netflix).

Aproveitar o conhecimento sobre cada utilizador para segmentar e personalizar a oferta de produtos a cada um deles e, assim, criar relações íntimas duradouras é uma das peças chave para um bom desempenho na economia em rede. E AT&T tem o potencial para fazê-lo e apresentar conteúdos diretamente aos consumidores, através do portefólio da Time Warner. Esta será também uma forma de acelerar o futuro da TV em todo o lado, diretamente do fornecedor de telecomunicações para dispositivos móveis, TV e Internet.

“No mundo de hoje, praticamente não chega ter tudo [conteúdos] a menos que tenhamos acesso ao consumidor, que, graças à tecnologia, está a fornecer uma quantidade incrível de dados que permitem oferece ao consumidor uma experiência mais customizada e personalizada que pode ser melhor monetizada”. Bob Iger, CEO da Disney.

2 em 1: Criação e distribuição de conteúdos

Como forma de se defenderem de novos concorrentes, como o YouTube ou Netflix, outras Telco têm também adquirido empresas de media, juntando, assim, na mesma empresa conteúdos e distribuição. A Comcast adquiriu a NBCUniversal (a total aquisição da empresa foi feita em 2013 por 16,7 mil milhões de dólares) e recentemente a NBC Universal adquiriu a DreamWorks por 3,8 mil milhões de dólares; já Verizon adquiriu AOL (2015) por 4.4 mil milhões de dólares e a Yahoo! por 4,83 mil milhões de dólares e a AT&T já havia adquirido também a DirecTV (2014), por 48,5 mil milhões de dólares.

 …E as grandes tecnológicas, como respondem?

Os conteúdos são essenciais também para o modelo de negócio das tecnológicas. A Apple lançou em 2015 a estação de rádio, a Beats 1, e  prepara-se para o desenvolver conteúdos de TV , possivelmente para distribuir em exclusivo na Apple TV. A gigante liderada por Tim Cook quer toda a cadeia de valor: dispositivos (iPhone, iPad, Apple TV, etc.), conteúdos (direitos), plataformas de distribuição (iTunes) e publicidade.

As aquisições de empresas de media por parte de Telcos geram pressão às empresas tecnológicas … uma incessante busca pelos conteúdos. A Apple, aliás, chegou a abordar a Time Warner com a intenção de fazer uma fusão – o portefólio de empresas da Time Warner disponibilizaria à Apple um menu gigante de conteúdos que poderiam ser oferecidos através do iPhone, iPad, Mac e Apple TV.

Apesar da Apple demonstrar-se empenhada em reinventar a televisão, ainda há uma peça que falta no seu puzzle: conteúdos para o seu serviço de vídeo. Sem a Time Warner… a grande afinidade que existe entre a Disney e a Apple pode eventualmente vir a resultar numa fusão entre as duas empresas. Bob Iger, CEO da Disney, faz parte do board de diretores da Apple e a amizade que mantinha com Steve Jobs, por exemplo, fez com fosse a primeira empresa a colocar episódios de TV completos no iTunes e a adoptar outros produtos da Apple, desde o iPad ao Apple Watch. Para além disso, a viúva de Steve Jobs – Laurene Powell Jobs é a maior accionista particular da Disney.

O streaming de música e de vídeo são uma forma de a Apple posicionar-se para aumentar a oferta de valor na utilização do hardware da empresa (em detrimento de aumentar as receitas provenientes dos serviços).

Enquanto isso, também a Google criou uma parceria com a CBS para um novo serviço televisivo (Unplugged) distribuído pela Internet, integrado no YouTube e que inclui jogos da NFL, por exemplo, e está em conversações avançadas com a 21st Century Fox, Walt Disney Co e Viacom para distribuir também os programas destas empresas.

No meio de todo este turbilhão, em que também as plataformas sociais (como o Twitter, por exemplo, que adquiriu direitos de transmissão de eventos desportivos) estão a invadir o terreno da TV e a torná-la mais “social”, se dúvidas houvesse todas estas aquisições e movimentações provam que o conteúdo continuará a ser Rei na Era Digital.

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