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Kyu Rhee – IBM: “Tecnologia cognitiva é a mais promissora na saúde”

Kyu Rhee, vice-presidente e Chief Health Officer da IBM, acredita que a tecnologia cognitiva é a mais promissora na área da saúde, estando já a ser atingidos “progressos extraordinários” em áreas como a oncologia, genómica ou testes clínicos. Numa entrevista concedida na Web Summit, o especialista evidenciou que esta tecnologia pode ser relevante também na descoberta de novos medicamentos ou reutilização de medicamentos específicos para uma doença, mas que podem ser utilizados para combater outras. 

O IBM Watson é um supercomputador com o potencial de disromper a indústria da saúde. Quão importante será o papel da inteligência artificial nesta área?

Nós costumamos dizer que a IBM é o catalisador. Quase que podemos dizer que a unidade Watson Health é uma startup com 19 meses e acreditamos que parte do que fazemos é democratizar o conhecimento e o acesso a dados relativos à saúde de uma forma muito segura. Em vez de inteligência artificial, utilizamos, muito frequentemente, o termo inteligência aumentada, porque estamos a falar de humanos que, juntamente com o Watson, estão a introduzir melhorias. Trata-se de transformar big data numa outra forma de inteligência artificial: transformar dados em insights. Acreditamos que, através do poder do Watson e de parcerias, faremos coisas extraordinárias. Aliás, já estamos a fazer coisas extraordinárias em áreas como a oncologia, genómica, testes clínicos e em muitas outras áreas, como imaging na qual conseguimos também progressos extraordinários.

Em que geografias o Watson já está a ser utilizado?

Estive, por exemplo, no hospital Bumrungrad, em Banguecoque, na Tailândia, onde falei com oncologistas que estão a utilizar o Watson para fazer recomendações de tratamento aos seus pacientes. Falei com médicos dos hospitais Manipal, na Índia, com médicos na Holanda e na Maio Clinic, nos Estados Unidos, que também o estão a utilizar. Há muitos exemplos.

“Qualquer indústria – e penso que na de cuidados de saúde é bastante evidente – produz grandes quantidades de dados. Todos se estão a aperceber que os dados são um recurso natural, frequentemente, inexplorado.”

Estabeleceram parcerias com diferentes empresas, desde tecnológicas a farmacêuticas. Quais acredita que serão os maiores impactos nos modelos de negócio das farmacêuticas, por exemplo?

Qualquer indústria – e penso que na de cuidados de saúde é bastante evidente – produz grandes quantidades de dados. Todos se estão a aperceber que os dados são um recurso natural, frequentemente, inexplorado. 80% desses dados acreditamos que são invisíveis e não têm sido aproveitados – encontram-se num sistema em que estão a ser registados, mas não estão realmente a ser explorados e compreendidos. O Watson é capaz de compreender esses dados e produzir insights.
Na indústria farmacêutica, acreditamos que existe um potencial extraordinário para o que chamamos de descoberta de medicamentos ou reaproveitamento de medicamentos para combater novas doenças. Muitas farmacêuticas investem mais de 20 anos e 2,5 mil milhões de dólares por cada medicamento aprovado, possuindo grandes quantidades de dados sobre testes clínicos e estudos, pelo que com o poder do Watson podem surgir outras utilizações para estes medicamentos. Uma vez assegurada a segurança e eficácia, existem muitas outras potenciais utilizações destes medicamentos, que podem estar a ser subscritos para combater uma doença, mas que podem ser utilizados para abordar outras.

Que outros exemplos podemos encontrar? 

Acreditamos também que por uma questão de segurança dos medicamentos existem muitas oportunidades para perceber melhor que medicamento deve ser escolhido e como é que podemos garantir que está direcionado para o paciente certo.
Existe também o que chamamos de criação de inteligência, como é exemplo a nossa parceria com a farmacêutica Teva, na qual estamos à procura de formas de criar inaladores para o tratamento de pacientes com asma. A minha filha tem asma e usa dois inaladores, mas que não estão conectados a dados. O que é entusiasmante é que estamos à procura de formas de ligar os dados “produzidos” pelos inaladores, por Bluetooth, com dados meteorológicos e dados clínicos, para prever com maior rigor o agravamento da asma, prevenir ataques e que as pessoas fiquem doentes.

Muitas farmacêuticas investem mais de 20 anos e 2,5 mil milhões de dólares por cada medicamento aprovado, possuindo grandes quantidades de dados sobre testes clínicos e estudos, pelo que com o poder do Watson podem surgir outras utilizações para estes medicamentos.

Têm, portanto, um papel importante na parte da Investigação e Desenvolvimento…

Sim. A IBM investiu 15 mil milhões no desenvolvimento do Watson e 6 mil milhões de dólares em aquisições (de empresas), levamos muito a sério o trabalho de melhoria,  transformação da saúde e dos cuidados de saúde e o mundo cognitivo e vamos continuar a construir muita investigação e desenvolvimento nestas áreas com parceiros fantásticos em todo o mundo. Sabemos que não conseguimos fazer isto sozinhos, precisamos de fazê-lo em conjunto, com uma equipa.

A Apple, por exemplo, é uma das gigantes tecnológicas com maior enfoque na área da saúde, tendo desenvolvido diferentes ferramentas neste âmbito. O que nos pode dizer sobre a parceria que formaram?

Quando pensamos no consumo e no envolvimento com o consumidor, a Apple é muito complementar ao nosso leque de competências no mundo dos negócios. O que estamos a fazer é integrar as ferramentas Healthkit, Researchkit e Carekit da Apple na cloud do IBM Watson, num ambiente muito seguro, de forma a captar insights. Estamos a fazer alguns projetos interessantes dedicados ao sono, temos uma aplicação, em parceria com a Apple e a American Sleep Apnea Association, que procura formas de promover a “higiene do sono”, que é algo muito importante para a saúde.

Assistimos ao crescimento de uma série de tecnologias/inovações com impacto ao nível da saúde, como impressão 3D, nanotecnologia, inteligência artificial etc. Qual é para si a tecnologia mais promissora?

Para mim, é a tecnologia cognitiva e o papel que o cognitivo terá em permitir que as pessoas tenham mais saúde e em ajudá-las a tomar melhores decisões relativas aos cuidados de saúde – tanto pacientes como profissionais. Ou seja, a possibilidade de transformar big data, que é hoje um recurso natural e que agora está em formatos desestruturados e disponível numa variedade de silos, em insights; encontrar formas de fazer a ponte e reunir esses dados, interconectando-os e tornando-os mais inteligentes.

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