
Netflix: excelentes resultados no 1º trimestre de 2019
Jeremy Taïe, Value Analyst na FABERNOVEL Paris
A análise
O inverno será agitado para o Netflix, com o lançamento das novas plataformas de streaming da Apple e da Disney. O recente anúncio de que o serviço de streaming de vídeo Disney+ vai ser lançado em novembro provocou uma descida de 5% no valor das ações do Netflix. É, de facto, uma guerra impiedosa que deverá começar no final do ano.
No entanto, o mercado continua a demonstrar confiança. O Netflix teve uma performance muito acima das expectativas no primeiro trimestre, assegurada por uma fidelização permanente dos utilizadores. Apesar do aumento do valor da subscrição e da crescente concorrência, o Netflix mantém a menor taxa de desistência do serviço na indústria (9% há um ano, em comparação com uma média de 18% na indústria), com um valorização recorde de 1080 dólares por assinante, bem acima dos GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon) e de modelos de subscrição como o Spotify.
Mas será que o Netflix será capaz de manter a sua posição de campeã do entretenimento? A perspectiva anunciada para o próximo trimestre modera os resultados deste início de ano (0,55 dólares em lucro por ação em comparação com os 0,99 dólares inicialmente previstos pela Factset), antecipando o impacto da subida de custos para valores recorde associados ao investimento na produção conteúdos, no resto do ano.
O essencial
Mercado: “Está a surgir umA onda gigantesca na indústria de entretenimento”

Nos serviços on-demand, o Netflix já compete com a Hulu, a HBO Now, o myCANAL ou o Amazon Prime. Mas este ecossistema competitivo tornou-se ainda mais denso. A Disney anunciou o lançamento da sua nova plataforma de streaming de vídeo, para 12 de novembro, nos Estados Unidos, o que provocou uma queda de 5% no valor das ações do Netflix. No outono de 2019, vão também ser também lançados o Apple TV+ e, potencialmente, o Quibi, um projeto de mini-séries de Meg Whitman e Jeffrey Katzenberg, no final de 2019. Isto sem mencionar que outros players, como o Youtube, a AT&T e os principais canais de televisão, que também querem uma fatia deste mercado.
Mais inesperadamente, o Netflix referiu na apresentação de resultados em janeiro de 2019 que: “O nosso principal concorrente (e para o qual perdemos mais) é o Fortnite, mais do que a HBO“. Todos os players de entretenimento, incluindo os de videojogos, como o Fortnite, a APEX Legends ou até mesmo o Snapchat, são concorrentes do Netflix porque ocupam o tempo e a atenção dos seus utilizadores.
O Netflix não parece particularmente preocupado e acredita que todos vão continua a crescer, com a criação dos próprios conteúdos: “Acreditamos que todos continuaremos a crescer, à medida que cada um de nós investir mais em conteúdos”. Também não há muito com que se preocupar do lado dos investidores, porque as ações da empresa subiram 7% durante o trimestre.
Os SUBSCRITORES do Netflix estão dispostos a pagar mais?
Os novos subscritores (liquidos) subiram no primeiro trimestre em mais 9,6 milhões, um aumento de 16% em relação ao ano anterior, representando um novo recorde trimestral – Netflix
Apesar do crescimento recorde no número de novos subscritores do Netflix neste trimestre (+9,6 milhões, sendo que 7,9 milhões foram a nível internacional), a empresa prevê uma desaceleração significativa do número de novos assinantes: apenas 5 milhões no segundo trimestre de 2019 (menos 8% do que no ano anterior, ou seja, menos 1 milhão em relação à estimativa dos analistas).
Esta desaceleração está ligada à estratégia de aumento do preço da subscrição do Netflix, um anúncio, relativamente, bem recebido pelo mercado (+6%) por duas razões:
- O Netflix fidelizou os clientes graças às recomendações de conteúdos feitas com base na recolha de dados sobre a visualização de séries. Hoje, 44% dos lares americanos escolheriam o Netflix como o seu único meio de entretenimento se tivessem que escolher apenas um (fonte: Hub Entertainment Research, fevereiro de 2019).
- O Netflix enriqueceu o seu catálogo ao longo dos anos com um investimento massivo em conteúdos. Ao contrário da Disney, que pode apostar em sucessos internacionais (Marvel, Star Wars, clássicos da Disney, etc.), o Netflix pode, oferecer uma infinidade de séries e filmes de sucesso e fidelizar a sua audiência atual.
Esta estratégia de aumento de preços não deverá afetar a base de quase 150 milhões de subscritores do Netflix, mas poderá representar uma barreira à atração de novos subscritores.
Investir e inovar: os dois pilares da estratégia do Netflix
Esperamos um cash flow negativo em 2019, e que seja de aproximadamente -3,5 mil milhões de dólares – Netflix.
Durante vários anos, o Netflix habituou os investidores a custos elevados, mas será que este modelo é sustentável?
Apesar de uma desaceleração nos custos no primeiro trimestre de 2019, o Netflix avisou, no seu comunicado aos investidores, que o fluxo de caixa deverá atingir -3,5 mil milhões de dólares em 2019, em comparação com os
-3 mil milhões de dólares, inicialmente previstos. No entanto, o Netflix espera uma melhoria em 2020. Se estes fluxos são uma preocupação para alguns, investir nas suas próprias produções permitirá ao Netflix aumentar a sua margem a longo prazo, rentabilizando as produções existentes (sobre as quais a empresa não tem de pagar).
Parece que este modelo também se aplica aos concorrentes do Netflix que investem fortemente na produção própria de conteúdos. A Apple contratou Steven Spielberg, Jennifer Aniston e Oprah Winfrey para a Apple TV+ e a Disney prometeu investir mil milhões, por ano, para criar novas séries para o serviço Disney+.
E é nesta direção que o Netflix quer seguir, pretende investir 15 mil milhões de dólares, em 2019, para criar conteúdos exclusivos e inovadores, que lhe permitem diversificar a sua oferta. O filme interativo “Black Mirror: Bandersnatch” ilustra bem isso, é um formato inovador em que é o espectador que toma decisões, em vez do herói da história. Outro exemplo é o “Love, Death & Robots”, mini-episódios com uma duração de minutos que são um concorrente do principal do Youtube.
O Netflix tem sido capaz de superar as suas próprias expectativas há vários anos. Por isso, não devemos ficar alarmados com as perspetivas cautelosas da empresa para o segundo trimestre.
Embora a estratégia de investimento agressiva seja uma fonte de preocupação para alguns, o Netflix conseguiu, até agora, reunir os seus investidores em torno de uma estratégia que provou ser vencedora, investindo significativamente nos seus subscritores, através de conteúdos diferenciadores e de qualidade.
Tendo em conta os investimentos recorde anunciados para o ano e a crescente pressão da concorrência, a empresa terá de demonstrar a sua capacidade de se manter nesta dinâmica virtuosa de crescimento. Com isto, pode manter seu estatuto de líder no entretenimento e os seus múltiplos de valorização elevados (56x 2019e EBITDA vs. 23x para a Amazon), refletindo o forte comprometimento da sua base de clientes, a escalabilidade do seu modelo e o seu poder de definição de preços.
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Outros acrónimos de empresas que seguem estratégias GAFAnomics®:
NATU – Netflix, AirBnB, Tesla e UBER
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ESTUDOS GAFAnomics®:
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GAFAnomics: Nova Economia, Novas Regras
GAFAnomics: 4 super poderes, na Network Economy
UBER: O vírus dos transportes
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