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Tesla: resultados do 1º trimestre, num momento decisivo

Jeremy Taïeb, Value Analyst  e Joachim Renaudin, Senior Project Analyst, da FABERNOVEL Paris

O essencial

Definir a mobilidade do futuro: um desafio ainda a ultrapassar pela Tesla

Sem grande surpresa, após a pré-publicação dos resultados da Tesla, a 11 de abril, ficámos a saber que as vendas ficaram abaixo das expectativas neste trimestre. A causa: volumes de entrega de carros inferiores aos esperados, um compromisso financeiro em obrigações, de quase mil milhões de dólares, mas também um mix de vendas entre os Model 3, S e X que tende para uma hegemonia do Model 3. Este aumento na procura pelo mais recente produto da Tesla provocou a passagem da empresa para um modelo mais mainstream, que gera volumes maiores, mantendo uma margem bruta elevada (20,2% em comparação com 12,2% da General Motors, por exemplo).

Apesar de um aumento de 33% do volume de negócios no primeiro trimestre (em comparação com o ano passado), a Tesla permanece bastante abaixo das expectativas dos analistas (-14,3%).

Por outro lado, a Tesla terá de triplicar as vendas para igualar as gigantes automóveis tradicionais, cujo crescimento das vendas permanece nivelado, de um modo geral (+2% para a General Motors, -3% para a Renault ou -3% para a BMW, por exemplo).

No entanto, a Tesla indica que a empresa deverá gerar lucro no terceiro trimestre de 2019, depois da redução do crédito fiscal para a compra de veículos elétricos anunciada há algumas semanas.

Para explicar os resultados deste trimestre, Elon Musk esclareceu que a empresa não foi capaz de responder à forte procura pelo Model 3 no início do ano, com quase 63.000 unidades do Model 3 fabricadas e apenas 51.000 entregues, ou seja, apenas 81% dos carros entregues. A Tesla espera compensar este trimestre com uma entrega de 90.000 a 100.000 veículos no segundo trimestre.

No entanto, a Tesla não confia apenas na construção tradicional, uma vez que, além de oferecer carros elétricos de nova geração, também investe em carros autoguiados através do seu sistema para condução autónoma integrado. Embora a empresa esteja a criar independência neste domínio, a aposta é arriscada, especialmente devido à forte concorrência da Waymo.

A análise

A mudança no modelo de negócio da Tesla

O Model 3 foi, mais uma vez, o carro premium mais vendido nos EUA, no primeiro trimestre de 2019, ultrapassando em quase 60% o segundo mais vendido.

A Tesla está num ponto de viragem na sua história. As vendas já não estão equilibradas entre os seus diferentes automóveis: o Model 3 representa mais de 80% das vendas da empresa. Em conformidade com esta estratégia, a Tesla anunciou, em março passado, a chegada do Model Y, um SUV apenas 10% mais caro do que o Model 3, que continua a ser o modelo mais barato da marca (35.000 dólares em comparação com os 109.000 dólares do Model X). A empresa está, portanto, a optar por uma estratégia de volume que contrasta com o seu modelo anterior.

Esta estratégia, menos focada na marca premium, pode parecer surpreendente, mas já foi anunciada em 2006 no Master Plan de longo prazo da Tesla (ao qual fazemos referência no nosso estudo Tesla, Uploading the Future).  No entanto, deixa alguns investidores em alerta, que não hesitam no “shorter” das ações (ou seja, apostar para que a ação da Tesla perca valor).

Com uma taxa de juro de curto prazo de quase 20%, a Tesla está muito mais preocupada do que as empresas tecnológicas, como os GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon), cuja taxa de juro de curto prazo é inferior a 1%, ou a indústria automóvel, como a General Motors (menos de 2%).

No entanto, enquanto o número de veículos entregues neste trimestre é decepcionante, é de salientar que o primeiro trimestre é, tipicamente, mais fraco, do que no resto do ano, e que as entregas do Model 3 continuam elevadas (51.000 em comparação com 8.200 há um ano). A Tesla anunciou que planeia a entrega de entre 90.000 e 100.000 no segundo trimestre de 2019.

Expectativas particularmente altas para a Tesla

Prevemos que os fatores que ocorreram no primeiro trimestre não voltem a repetir-se no segundo trimestre e prevemos que o saldo no final de trimestres continue a aumentar daqui em diante – Tesla

A Tesla é uma excepção no setor da indústria automóvel. A empresa valorizou 3 vezes as suas vendas (em comparação com menos de uma vez de concorrentes como a Renault, a Ford e a General Motors). Esta diferença de valorização deve-se ao número de vendas mais reduzido da Tesla em relação a outros fabricantes de automóveis, mas também, e acima de tudo, ao potencial de crescimento da Tesla nos próximos anos. É neste contexto de crescimento que os investidores procuram investir.

Esta valorização também ilustra, em certo ponto, a confiança que os acionistas têm em Elon Musk, apesar das controvérsias e do recente impasse com o SEC (anúncio da privatização da Tesla e a divulgação  não oficial dos resultados, etc.).

Os investidores também esperam fortes resultados financeiros a curto prazo, o que parecia ser confirmado pelo desempenho recente da Tesla (+120% das vendas no quarto trimestre de 2018) e pelo crescimento exponencial da empresa.

Mas este primeiro trimestre marca uma recuperação esperada com um crescimento da receita de “apenas” 33% neste trimestre, em comparação com o primeiro trimestre de 2018. Além disso, os investimentos avultados (quase mil milhões de dólares) colocam Elon Musk numa posição em que a empresa não se pode auto-financiar, anunciando, agora, que terá lucro no terceiro trimestre, ao invés de no segundo trimestre. No entanto, os investidores foram tranquilizados: Elon Musk continua recetivo a um aumento de capital, a fim de recuperar a tesouraria da Tesla, que agora ascende a apenas 2,2 mil milhões de dólares.

O carro autoguiado da Tesla, uma aposta arriscada

Um robotaxi capaz de percorrer cerca de 1,6 milhões de quilómetros com o mesmo pack de baterias, com todos os sensores e o poder computacional para uma condução totalmente autónoma, deverá ter um custo de produção abaixo dos 38 mil dólares.  – Tesla

A Tesla está a posicionar-se de uma forma muito diferente de outros fabricantes de automóveis autoguiados.

Por um lado, planeia lançar 1 milhão de carros autoguiados competindo com a Uber e com a Lyft, com um posicionamento mais barato (um custo de produção abaixo dos 38 mil dólares) e permitindo que os proprietários de carros Tesla disponibilizem os seus carros quando não os estão a utilizar e gerem receita. (cerca de 30 mil dólares por ano).

Por outro lado, graças à sua frota de automóveis já em circulação, a Tesla pode melhorar os seus algoritmos alimentando permanentemente as suas bases de dados.

Assim, ao contrário dos fabricantes de automóveis tradicionais, cujos carros perdem valor ao longo do tempo, a Tesla melhora os seus carros com inteligência artificial. Esta estratégia é insuficiente tendo em conta que a Morgan Stanley valoriza a Waymo, uma subsidiária da Alphabet/Google especializada em automóveis autoguiados, em mais de 175 mil milhões de dólares. Uma valorização três vez mais elevada do que a da Tesla, sem sequer ter produzido um único carro.

A Tesla organizou uma conferência, a 22 de abril, para esclarecer os seus investidores em relação aos carros autoguiados e compensar um trimestre com resultados inferiores ao esperado. A conferência permitiu à Tesla apresentar o novo chip, anunciado no final de 2017, que lhe permite evitar fornecedores de serviços externos, como a Nvidia, para o seu carro autoguiado. No entanto, a conferência não teve os efeitos esperados devido ao incêndio de um Tesla em Xangai, no mesmo dia, que provocou uma queda de 4% no preço das ações.

Os especialistas

Jeremy Taïeb, Value Analyst na FABERNOVEL Paris

A visão da Tesla é, claramente, disruptiva e é fácil de entender o entusiasmo em relação a Elon Musk. Mas ao apostar na Tesla, os investidores confiam num CEO com um temperamento explosivo que é preocupante (veja-se a saída de 4 dos 11 diretores da empresa e o braço de ferro com o SEC, por exemplo). O azar também parece estar a atacar a Tesla, que viu um dos seus carros pegar fogo em Xangai, numa altura em que está a expandir-se para a China, através da criação da sua primeira fábrica fora dos Estados Unidos.

 

Joachim Renaudin, Senior Project Analyst, na FABERNOVEL Paris

Face à atualidade explosiva – a pressão dos resultados trimestrais decepcionantes e os Model S a pegar fogo – Musk desvia a atenção e concentra a sua comunicação numa visão de longo prazo através do carro autoguiado e da Tesla Network. Em suma: a Tesla quer ser a Mercedes, a Waymo e a Uber ao mesmo tempo. Atraente no papel, mas as restrições de curto prazo da Tesla podem impedi-la de investir o suficiente em software e de atrair clientes para vencer a Waymo e a Uber. Como sempre, Musk tem mais olhos do que barriga da Tesla. Será que vai surpreender-nos mais uma vez?

 


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